A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, disse hoje, na Grande Entrevista do Canal 1, compreender os motivos da insatisfação e de desmotivação dos professores, acreditando que o plano laboral e o desempenho profissional são estanques e não interagem.
A desmotivação, a intensificação da carga laboral, os maiores sacrifícios, mais tempo passado na escola (além do trabalho levado para casa), que a ministra reconhece ter caído em cima dos docentes, resultam não num prémio, mas sim num castigo: mais precariedade laboral, menos salário, pior carreira.
Determinado por uma operação financeira (e diz-se que se aposta na Educação quando se corta no orçamento...) e não por razões verdadeiramente educativas.
E ter os professores descontentes e desmotivados nem interessa. Porque a autista e idealista Maria de Lurdes Rodrigues acredita que isso nada determina ou influencia o desempenho profissional, no dia a dia das escolas... Como se os professores não fossem humanos...
Este discurso não é novo e é estratégico. Recorde-se aqui: Nudez mórbida na Acção Socialista ou ainda aqui: «É ilusão dizer que os professores se motivam pela progressão na carreira».
Como é, então, a compensação dos professores, no entender de Maria de Lurdes Rodrigues? Considerados missionários ou sacerdotes, sem necessidades terrenas e vivendo em função de uma compensação transcendental, numa vida e num mundo do Além, a ministra da Educação manda os «professores sentirem[-se]compensados com melhoria dos resultados escolares» alegados pelo Governo.
Como se os docentes não tivessem, cada vez mais, numa escola massificada sem condições de resposta a essa massificação, dificuldades em se sentirem realizados (felizes) na sua profissão.
Muitas vezes, a compensação é a indisciplina, as bofetadas de ingratidão, o desgaste emocional, o pouco ou nenhum empenho de muitos alunos com uma atitude negativa perante o trabalho intelectual ou a destruição de muito trabalho que o docente faz na organização e criação de condições de aprendizagem.
Poucos sabem das consequências da intensificação (sobrecarga), desqualificação e desprofissionalização do trabalho docente, repleto de tarefas burocráticas e administrativas, sobre o sistema educativo. São coisas menos visíveis... e sempre se pode culpar os professores de tudo, essa raça de profissionais que se motiva também pela progressão na carreira e pelo salário. Uma anormalidade.
«Acha que a decisão política se toma em função da rua?», perguntou a ministra à entrevistadora Judite de Sousa, mostrando indiferença ao significado, inclusive político, de várias manifestações, por todo o país, nas últimas duas semanas, a culminar sábado, numa grande manifestação, em Lisboa. Tal desvalorização das razões na base do protesto é ofensivo. Suficiente para levar mais alguns à rua, com certeza.
Maria de Lurdes Rodrigues conseguiu, de facto, unir os professores.
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