«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

segunda-feira, junho 30, 2008

Liberalização aérea II: turismo colocado à frente do interesse dos madeirenses

A liberalização aérea da rota Madeira-Lisboa é mais um peso nos costados dos madeirenses, dóceis seres habituados à canga.

É mais barato aos turistas viajarem de e para a Madeira do que o madeirense viajar para Lisboa. O Governo Regional, através da recente liberalização, negociada nos termos em que foi, veio deixar os madeirenses ainda em pior situação, colocando-se o turismo à frente dos interesses dos madeirenses.

Mais uma prova disso está contida na edição do Diário de 25 de Junho do corrente, em que se dá conta que a secretária regional do Turismo e Transportes «fez um balanço positivo dos efeitos da liberalização no que ao turismo diz respeito.» Pois, e os madeirenses que se lixem...

Como aconselha este blogger, «era bom que deixasse de falar do número de turistas entrados após a liberalização, porque o que está aqui em causa são os MADEIRENSES e PORTO-SANTENSES que estão condicionados pelos preços que estão a ser praticados.»

Será que o objectivo era mesmo esse? Limitar a saída dos madeirenses do Rochedo? Para ficarem ainda mais insularizados e anestesiados? Terá o Governo Regional pensado que, para passageiro frequente, basta o deputado-empresário Jaime Ramos?

Em nome do turismo os responsáveis regionais avançaram com a sua ideia de liberalizar a rota entre a Madeira e Lisboa. Agora, que as coisas correm mal para os residentes e estudantes, passa-se a batata quente para a República, para ela resolver os problemas em que nos meteram os governantes regionais com intervenção directa no processo.

Ainda por cima, foram alertados pelo relatório de um Grupo de Trabalho, como tem lembrado o Com que então:

«Assim, porque a liberalização sem condições contratuais das ligações aéreas pode não significar mais voos, menor preço e maior capacidade, até porque eliminando-se a obrigação da frequência e a obrigação de continuidade dos serviços, seria natural que os operadores procurassem adequar a oferta em função da procura, o que poderia fazer flutuar de forma significativa a oferta em relação ao modelo actual, o Grupo de Trabalho de forma unânime entende que a Região não deverá correr estes riscos, razão pela qual a liberalização com condições contratuais é aquela que neste momento melhor salvaguarda os interesses da Região

Mesmo assim avançou-se com a ideia da liberalização, sem as devidas cautelas, conhecendo-se os riscos para os madeirenses ficarem privados das garantias do serviço público de transporte aéreo.

Depois de consumado o «momento histórico» anda-se de porta em porta a mendigar para que as entidades da República resolvam a trapalhada, quando tudo poderia ter sido prevenido durante o processo negocial.

Houve inabilidade estratégica e negocial, mas nunca se assumem responsabilidades e ninguém se demite. Perpetua-se esse complexo autonómico de baixa maturidade política de transferir a culpa para outros.

Depositei, na liberalização, alguma esperança de baixar o custo dos voos para a República. Tenho cada vez menos esperanças que assim seja, à luz dos novos dados e na forma como aconteceu a negociação por parte das entidades regionais.

O mercado desta ilha isolada no Atlântico é pouco apetecível. Nunca surgirão muitas companhias a querer operar entre a Madeira e Lisboa. O mercado, por conseguinte, não funcionará ou funcionará aquém do desejado.

E os meus queridos compatriotas, a pagar 300 e 400 euros para pôr os pés em Lisboa, estão mudos e anestesiados como sempre. O silêncio e a inacção cívicas dizem muito sobre este povo que teima em não se libertar das cangas.

Recorde-se:
Liberalização 1: só o tempo o dirá

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