Os madeirenses estão «condenados a nascerem e a morrerem na prisão oceânica» devido ao custo do transporte aéreo, agravado com a liberalização sugerida, idealizada e assinada pelo Governo Regional.
photo copyright
Emanuel Rodrigues, presidente do Parlamento da Região, em 1976, assina um artigo de opinião esclarecido e certeiro, no Diário de hoje, dia em que se comemora a Autonomia. Pergunta-lhe, no título, Quo vadis?
Uma das ideias centrais tem a ver com o isolamento, a ilha como uma prisão, com o conservadorismo, a cristalização da mentalidade insular e o subdesenvolvimento cultural. Recorde-se o post Prisioneiros (explorados) dos Elementos, em que se perguntava, então, «até quando os madeirenses continuarão a ser, como se fosse uma fatalidade, prisioneiros da sua ilha?»
Atrevo-me a citar o texto de Emanuel Rodrigues na totalidade, com sublinhado da minha responsabilidade:
«O dia 1 de Julho remete-nos para um tempo novo, recorda-nos a Revolução de Abril e permite que façamos um balanço do muito que o Tempo nos deu, e daquilo que teimosamente o Tempo nos vem recusando. O Tempo tem vindo sistematicamente a recusar uma "revolução pacífica" da mentalidade insular. É este um facto incontestável.
Há mais de 30 anos que nós, de forma ingénua e quase infantil, vimos aguardando a sua chegada. Em vão, porém...! E aqui entra, se me é permitido, a espúria liberalização do espaço aéreo português, que veio a dar a machadada final na tão propalada "revolução cultural".
Expliquemo-nos...
As comunidades insulares são, por via de regra, comunidades isoladas e conservadoras, e onde é intenso o cheiro a bafio.
O insular nasce, procria e morre na ilha, vivendo engaiolado numa letargia arrepiante. A sua mentalidade permanecerá constante, obnubilada e quase imutável, se não for levada a cabo a tão desejada "revolução".
A primeira alavanca para conseguir esse desiderato é, desde logo, permitir um contacto permanente e continuado dos insulares com os seus irmãos residentes na plataforma continental.
O que, necessariamente, implica a utilização do transporte aéreo - já que não podemos usar nem comboio, nem bicicleta nem sequer trotineta. Mas todos nós sabemos que a esmagadora maioria da população insular não tem condições económicas para sair da "prisão" que o viver na ilha representa.
Isto porque o custo do transporte aéreo é ESCANDALOSAMENTE elevado, tendo mesmo aumentado após a pretensa liberalização. Imagine - se quanto terá que despender uma família dita normal (com um mínimo de três elementos) com as passagens aéreas aos preços actuais, a que acrescerá as despesas com alimentação, estadia e transporte de e para o aeroporto!
Hoje, passados que são mais de 30 anos sobre a consagração constitucional do regime autonómico, quando era suposto o madeirense e o porto-santense viverem duma forma mais responsável e com inteira liberdade, ei-los condenados a serem violentados e sufocados no seu desejo de Liberdade e de ir mais além, condenados que estão a nascerem e a morrerem na prisão oceânica, como se não fossem Seres Humanos de corpo inteiro.
E, quando tudo isto se passa perante os nossos olhos de forma tão cínica e despudorada, é triste e aviltante ver outros portugueses a aplaudir de pé...! Como dizia o Poeta, "são outros que, com outros olhos, não vêem escolhos nenhuns".»
Recorde-se:
Liberalização aérea 1: só o tempo o dirá
Liberalização aérea 2: turismo colocado à frente dos interesses dos madeirenses
photo copyright
Emanuel Rodrigues, presidente do Parlamento da Região, em 1976, assina um artigo de opinião esclarecido e certeiro, no Diário de hoje, dia em que se comemora a Autonomia. Pergunta-lhe, no título, Quo vadis?
Uma das ideias centrais tem a ver com o isolamento, a ilha como uma prisão, com o conservadorismo, a cristalização da mentalidade insular e o subdesenvolvimento cultural. Recorde-se o post Prisioneiros (explorados) dos Elementos, em que se perguntava, então, «até quando os madeirenses continuarão a ser, como se fosse uma fatalidade, prisioneiros da sua ilha?»
Atrevo-me a citar o texto de Emanuel Rodrigues na totalidade, com sublinhado da minha responsabilidade:
«O dia 1 de Julho remete-nos para um tempo novo, recorda-nos a Revolução de Abril e permite que façamos um balanço do muito que o Tempo nos deu, e daquilo que teimosamente o Tempo nos vem recusando. O Tempo tem vindo sistematicamente a recusar uma "revolução pacífica" da mentalidade insular. É este um facto incontestável.
Há mais de 30 anos que nós, de forma ingénua e quase infantil, vimos aguardando a sua chegada. Em vão, porém...! E aqui entra, se me é permitido, a espúria liberalização do espaço aéreo português, que veio a dar a machadada final na tão propalada "revolução cultural".
Expliquemo-nos...
As comunidades insulares são, por via de regra, comunidades isoladas e conservadoras, e onde é intenso o cheiro a bafio.
O insular nasce, procria e morre na ilha, vivendo engaiolado numa letargia arrepiante. A sua mentalidade permanecerá constante, obnubilada e quase imutável, se não for levada a cabo a tão desejada "revolução".
A primeira alavanca para conseguir esse desiderato é, desde logo, permitir um contacto permanente e continuado dos insulares com os seus irmãos residentes na plataforma continental.
O que, necessariamente, implica a utilização do transporte aéreo - já que não podemos usar nem comboio, nem bicicleta nem sequer trotineta. Mas todos nós sabemos que a esmagadora maioria da população insular não tem condições económicas para sair da "prisão" que o viver na ilha representa.
Isto porque o custo do transporte aéreo é ESCANDALOSAMENTE elevado, tendo mesmo aumentado após a pretensa liberalização. Imagine - se quanto terá que despender uma família dita normal (com um mínimo de três elementos) com as passagens aéreas aos preços actuais, a que acrescerá as despesas com alimentação, estadia e transporte de e para o aeroporto!
Hoje, passados que são mais de 30 anos sobre a consagração constitucional do regime autonómico, quando era suposto o madeirense e o porto-santense viverem duma forma mais responsável e com inteira liberdade, ei-los condenados a serem violentados e sufocados no seu desejo de Liberdade e de ir mais além, condenados que estão a nascerem e a morrerem na prisão oceânica, como se não fossem Seres Humanos de corpo inteiro.
E, quando tudo isto se passa perante os nossos olhos de forma tão cínica e despudorada, é triste e aviltante ver outros portugueses a aplaudir de pé...! Como dizia o Poeta, "são outros que, com outros olhos, não vêem escolhos nenhuns".»
Recorde-se:
Liberalização aérea 1: só o tempo o dirá
Liberalização aérea 2: turismo colocado à frente dos interesses dos madeirenses
Sem comentários:
Enviar um comentário