Libertação insular

Por alguma razão se diz, popularmente, que cavar é acenar ao Diabo.

Conta-me um tio que, um dia, determinado morador no sítio da Vargem, freguesia da Calheta, na hora de ir embora para um país estrangeiro, em busca de melhor vida, aí pela década de 60, calculo, esse futuro emigrante disse a um outro tio-avô:

«Augusto, eu deixei-te no fundo do teu terreno uns objectos.» (Usou mesmo a palavra «objectos», em vez do vocábulo comum: «coisas»). E foi embora.

Quando o meu tio-avô Augusto foi ver que objectos eram esses, deparou-se com enxadas e outros instrumentos da lavoura, mas todos partidos.

Aquele homem, antes de avançar para uma vida nova, precisou de purgar a vida de escravidão que aqui levava. Tem um significado poderoso de libertação.

Libertação da canga.

E cangas há muitas, mas os madeirenses de hoje não são feitos da mesma fibra e já nem se atrevem a partir a loiça. Não lhes interessa mudar de vida para melhor, nem se libertarem.

Somos um povo e uma democracia adiados.

Recordar:
Anestesia geral