«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

terça-feira, outubro 28, 2008

Madeira a transformar-se numa bizarria como a de Michael Jackson?

«Ficamos aqui, um pouco entalados, sem saber se conseguimos ultrapassar este dilema: construir-destruindo ou construindo-valorizando.»

«[P]assados 25 anos, Michael Jackson foi perdendo aos poucos a sua autenticidade, transformando-se numa coisa exótica e bizarra. Alguns percalços naturais ou acidentes, não justificam a busca de uma identidade tão distinta da original. Aceitar-se-ia se o seu corpo fosse como o de Joseph Merrick, o Homem Elefante. Mas a sua beleza natural não envergonhava ninguém. Por isso a sua imagem se transformou num disparate ambulante.»

«Assim estamos na Madeira. Sabemos que o caminho só pode ser o de valorizar o que já temos de bom e singular, mas há quem insista em transfigurar alguns aspectos mais interessantes desta paisagem. Entretanto ficamos aqui, um pouco entalados, sem saber se conseguimos ultrapassar este dilema: construir-destruindo ou construindo-valorizando. Esperemos que depois de tantas cirurgias, com praias de areia amarela, enrocamentos feitos "com os pés" e construções à vontade do freguês, não se transforme a Madeira numa bizarria como a de Michael Jackson.»

Luis Vilhena
Diário 28.10.2008

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4 comentários:

  1. Caro Nélio,
    A partir de que tábua o barco de Teseu deixa de ser o barco de Teseu? A partir da 6ª tábua substituída ou da 100ª??? Se lhe cortarem uma mão o Nélio deixa de ser o Nélio? E se lhe cortarem um braço? e os dois braços? Braços pernas e acido na cara? Quando é que o Nélio deixa de ser Nélio? Estou a fazer a pergunta por uma razão. É que o Nélio conhece uma série de especialistas em autenticidade e talvez se resolva de vez problemas como os da identidade que, apesar de metafísico, tem implicações reais em questões como as da eutanásia, entre outros, como os do aborto. Eu hoje cortei as unhas, mudei de sexo e pintei o cabelo de vermelho. Quanto é que eu deixei de ser eu?
    Obrigado

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  2. Viva.

    Eu não deixo de ser eu sem braços ou pernas, mas nunca aceitaria que me quisessem tirar os braços e as pernas porque perderia muita da qualidade de vida e capacidade para produzir. No mínimo, transfigurava-me.

    Não é preciso deixar de ser eu para ser mau arrancar os braços e as pernas.

    Não é preciso a Madeira deixar de ser a Madeira para ser mau o arrancar de braços e pernas ao nosso património natural único e autêntico.

    Para nem falar no «ácido na cara», uma metáfora perfeita, já agora, para o efeito das praias falsas de areia amarela na costa singular da nossa ilha.

    Abraço.

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  3. Nélio,
    Nenhuma objecção a fazer. Colocou bem o problema.
    Já agora: Peter Singer, um dos meus filósofos de eleição na ética aplicada, faz uma defesa do ambiente muito próxima daquilo que o Nélio defende e que eu nem sempre estou de acordo. Por curiosidade, Singer não aceitaria o meu argumento da estética. Os argumentos de Singer aparecem em várias obras já traduzidas para português, mas a mais explorada é aquela que aparece em ètica Prática (Gradiva), um volume todo ele dedicado aos problemas da ética aplicada.
    abraço e obrigado

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  4. Viva.

    Obrigado pela referência relativa ao Peter Singer. Hei-de pesquisar.

    Abraço.

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