picture copyrightCultivar as capacidades de leitura e escrita, «construtoras do sujeito e reconstrutoras da cultura», é «função essencial da educação moderna. O advento das tecnologias de informação e comunicação não invalidam quer uma [ler] quer outra [escrever]. Mudam, quanto muito, os suportes mas ler e escrever continuam a ser inseparáveis uma vez que os ditos info-excluídos são primeiramente indivíduos a quem não chegou o que poderíamos chamar de alfebatização «básica».»
José M. P. Bóia
Educação e Sociedade - neoliberalismos e os desafios do futuro
Edições Sílabo, 2003:143
Recorde-se o que aqui já dissemos: a literacia digital, para dela retirarmos vantagens, implica estar na posse de outras literacias prévias, entre elas a leitura e a escrita.
Inês Silva, especialista em linguística, no Correio da Educação nº333 (ASA editores), afirma que o «computador ou o quadro interactivo não desenvolvem, por si só, as operações cognitivas complexas que são exigidas à actividade da escrita, se os seus utilizadores se limitarem a copiar, colar, retirar, cortar, reconfigurar, enviar, passar…»
O desenvolvimento de capacidades ao nível da pesquisa, organização, tratamento e gestão de informação e de outras literacias são fundamentais, nomeadamente através do recurso às tecnologias de Informação e Comunicação, mas não se esgotando nelas.
Como já dissemos, não alimentemos a ilusão que o programa e-escolas, sem desmerecer as virtudes da iniciativa, vai criar um estudante novo ou resolver o insucesso escolar. Não são os gadgets que transformam as pessoas. São valores, princípios (educação e formação pessoal) e a cultura que mudam a atitude das pessoas perante o conhecimento e o trabalho.
Como referiu José Pacheco Pereira, não estejamos, pois, «convencido[s] de que são os gadgets que mudam as pessoas, numa visão tecnocrática típica, sem perceber que o modo como as pessoas os usam pode ou não ser vantajoso conforme as literacias prévias que possuam.»
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