«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sexta-feira, novembro 14, 2008

Liberalização aérea 12: não acautelados interesses dos madeirenses

«Não sei como queremos [entre eles o Governo Regional] estar a intervir na política de preços das companhias [aéreas], no mercado livre», isto é, liberalizado, já que elas «praticam preços de acordo com a lei de oferta e da procura.»

João Welsh, no telejornal da RTP-Madeira de hoje, foi muito esclarecedor quanto à problemática da liberalização aérea, relativamente à qual alguns posicionamentos na Região têm criado mais ruído do que esclarecimento. Seria bom pensar, antes de tudo, no interesse dos madeirenses.

Assim, o governo regional e alguns partidos políticos não podem interferir nas estratégias de gestão da TAP, já que esta transportadora aérea passou a funcionar, nas ligações entre a Madeira e Portugal continental, num mercado livre.

Não poderemos querer todos os proveitos no mesmo saco: a liberalização para captar mais turistas e exigir à TAP as obrigações de serviço público a que deixou de estar obrigada.

Assim, como diz João Welsh, a tónica tem de ser colocada no princípio da continuidade territorial e no acautelar dos interesses dos madeirenses, estabelecendo-se «condições contratuais» (tecto máximo), como um limite para os preços nas épocas altas, de forma a evitar viagens a 400 e 500 euros, «preços exorbitantes», para os residentes, que não têm outra opção senão viajar nessas datas de especial procura ou marcar viagens sem muita antecedência ou e cima da hora.

O interesse dos madeirenses poderia ter sido, desde o início, melhor acautelado pelo Executivo Regional na negociação com o Governo da República. Como foram as autoridades regionais alertadas pelo relatório de um Grupo de Trabalho criado pelo próprio Executivo madeirense:

«Assim, porque a liberalização sem condições contratuais das ligações aéreas pode não significar mais voos, menor preço e maior capacidade, até porque eliminando-se a obrigação da frequência e a obrigação de continuidade dos serviços, seria natural que os operadores procurassem adequar a oferta em função da procura, o que poderia fazer flutuar de forma significativa a oferta em relação ao modelo actual, o Grupo de Trabalho de forma unânime entende que a Região não deverá correr estes riscos, razão pela qual a liberalização com condições contratuais é aquela que neste momento melhor salvaguarda os interesses da Região.»

Ora, o Governo Regional, segundo o delegado na Madeira da Associação Portuguesa das Agências de Viagens, não considerou esta cautela importante, confiando no mercado, como solução de todos os problemas. Está a funcionar para o turismo, mas não para os residentes. É mais uma prova de que se colocou os interesses do turismo à frente dos interesses dos madeirenses.

João Welsh considera que tais «condições contratuais» de salvaguarda para os residentes não põe em causa a liberalização aérea, pela razão de que os passageiros madeirenses são de 20 por cento.

Esse tecto máximo poderá não ser o ideal, mas o entrevistado diz que, nestas circunstâncias, «não há soluções ideiais» e que é preciso assegurar soluções menos penalizadoras para os madeirenses.

4 comentários:

  1. Caramba pá, eu não percebo como é que o Nélio e o João Welsh não conseguem perceber a vergonha e abuso arrogante de poder de mercado que a TAP fazia e faz com os madeirenses. Até parece que gostavam desse monopólio irritante e de levar com a arrogância da empresa.
    Eu tenho viajado para o Porto ao mesmo preço de antes da liberalização.

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  2. Viva.

    A diferença é que antes, quando a TAP tinha obrigações de serviço público na rota para a Madeira, poderíamos reclamar e exigir uma série de coisas. Agora, num mercado livre, quem não quer, simplesmente não é obrigado a viajar na TAP.

    A concorrência e a oferta/procura é que ditam os preços. Os governos não têm que interferir na estratégias de mercado e gestão dessas empresas.

    O Rolando não percebeu. João Welsh ou eu não estamos a defender a TAP. Estamos apenas a defender o interesse dos residentes, que o Governo Regional, apesar de alertado pelo Grupo de Trabalho que formou, não acautelou por não considerar importante, acreditando que o mercado livre tudo resolveria. Como se uma ilha no meio do Atlântico fosse um mercado muito apetecível...

    Oxalá não venhamos a ter saudades do «abuso arrogante» da TAP... Se o mercado não for rentável, a EasyJet simplesmente vai embora. Eu gostaria de não fosse. Num post anterior escrevemos as conclusões de um estudo:

    «tais companhias [low cost] "canibalizam" cerca de 36 por cento do tráfego aéreo instalado; dependem (na grande maioria) de sistemas de incentivos ao estabelecimento de rotas e frequências; e são muito flexíveis na substituição de rotas, o que cria incerteza e instabilidade no desenvolvimento económico das regiões para onde voam.»

    E leia o post a seguir a este sobre as low cost...

    Quando as coisas correm mal, a culpa é sempre de terceiros, desta vez da TAP, mesmo quando deixou de ter obrigações de serviço público na rota. Que raio de Autonomia é esta que não assume os seus erros e responsabilidades?

    Eu também digo: caramba pá!

    Gostaria de ver a Autonomia crescer e amadurecer.

    Abraço :)

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  3. Claro Nélio, não estão a defender a TAp, pelo menos conscientemente. Acontece que não existe qualquer vantagem em estramos agarrados à TAP e não é verdade que somente agora tenha de comprar as viagens com antecedência para serem mais baratas. Isso acontece desde sempre. O que eu não concordo com o Nélio e o o João Welsh é que nem com a TAP os interesses dos madeirenses estavam salvaguardados. Como a situação estava já bem lixadinha, não vejo em quê que a liberalização tivesse piorado o que já era mau. É difícil viajar barato com a liberalização? Pois é, mas pelo menos vai sendo possível, ainda que com muito marketing. Antes, com a TAP nem sequer era possível. Eu pude comprar agora viagens para Fevereiro para mim e para o meu filho a 150€ ida e volta (Porto). Antes nem com esta antecedência conseguia tal coisa. A situação não é de modo algum ideal para minimizar o peso da insularidade mas também é verdade que a situação está bem mellhor. Na semana passada comprei a viagem para a minha esposa para o Natal que me custa qualquer coisa como 220€ (porto - ida e volta). Ora bolas, é exctamente isto que eu teria de pagar à TAP antes da liberalização e se guardasse para mais tarde a compra sujeitava-me, à mesma, a tarifas elevadissímas. É por essa razão que eu considero a crítica à liberalização infundada. parece-me ser o 1º passo para melhorar as coisas. Os interessses dos madeirenses não estão salvaguardados? E algum dia estiveram? Para mim, festejo o fim do monopólio TAP na Madeira. Mais uma coisa: O Nélio não sabe nem tem de saber, mas durante estes 8 anos que cá resido fiz mais de 15 reclamações na TAP. Sabe quantas respostas recebi? Uma. Que raio de poder de reclamar está a falar? Que direitos estavam aí salvaguardados? ó se for o direito ao pão rançoso com uma salsicha dentro, antecedido dumas trombas do caraças das funcionárias da TAP.

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  4. Mais umas coisas:
    Com o TAP, Lisboa manda dinheiro para a Madeira dar aos clientes da TAP para que o dinheiro regresse à base já que o governo tem uma cota da empresa. Se o mercado não for rentável parece-me óbvio que viajar de avião torna-se coisa de ricos, tal como comprar chinelos também é coisa de quem tem dinheiro. Mas se o Nélio defende que o governo regional tem a obrigação de acautelar os interesses dos madeirenses em viajar para o continente, por que razão não o tem para viajar, sei lá, para Madrid? Acontece que eu tenho muitas mais opções com a liberalização. A Madeira, ao assegurar um serviço pseudo público com a TAP estava a remar contra todas as tendências mundiais que permitiram às pessoas poder deslocar-se a preços mais baixos, com horários mais flexíveis e em companhias diferentes. Veja o caso de Canárias que tanto tem criticado: as pessoas viajam ou não com mais facilidade, tanto para dentro como para fora do país? Isso é mau? O Nélio e o João podem pensar que ao passo que as low costs se vão tramar mais dia menos dia, a TAP sobrevive incólume ás trajatórias económicas, mas está novamente a partir de premissas muito discutíveis já que no momento tem tantas garantias que a TAP se vá embora como a easy jet se vá embora, como o Sá se vá embora, como a Fnac se vá embora, etc.. O que o governo regional fez foi dar um estímula para que a economia das viagens aéreas se desenvolva e é exactamente isso que o poder político tem de fazer, estimular. Se a easy se quer ir embora (como já foram muitas no passado) o governo tem é de estimular a economia e investir esforços nesse estímulo e não subsidiar companhias. Se a Madeira é um destino economicamente desinteressante, temos de o tornar interessante para que mais companhias se interessem em voar para aqui. Ou quer que a Madeira subsidie a TAP para viajar para um destino desinteressante? Melhores preços, melhores aviões, melhores aeroportos são produto do estímulo economico dado pelo poder político.
    abraço

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