«Um contra todos não pode vencer em democracia», disse Ana Benavente hoje no Funchal, acresentando que isso é «mortal para um membro do Governo.»
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Vital Moreira defende a estratégia de o governo tentar ganhar a opinião pública. Ora, o Ministério da Educação e o governo têm seguido, desde sempre, esta estratégia, mas que já provou não dar resultado.
Ana Benavente, ex-secretária de Estado da Educação do Governo de António Guterres, ainda no Funchal, perguntou: «se o [Governo] PS não é capaz de negociar com os professores, quem vai negociar?» E disse mais: «então talvez mais valha o PS não ter maioria absoluta para ter que negociar», isto é, para não proceder sempre de cima para baixo, no estilo quero, posso e mando, numa «ausência de diálogo político.» «Estas maiorias absolutas são o que chamo de democraturas.»
O Diário de Notícias da Madeira trouxe uma entrevista com Ana Benavente: «Esta tensão, a afronta aos professores terá consequências nas eleições de 2009, no imediato está a prejudicar a qualidade do ensino nas escolas portuguesas.» E sublinha: «os professores estão esmagados, investem o seu tempo e energia em tudo menos no trabalho com os alunos.»
Goste-se ou não, concorde-se ou não, a ministra da Educação e o governo precisam de ganhar os professores, não por oportunismo eleitoral, embora não seja um motivo de menor importância, mas sim por razões de viabilização do próprio modelo de avaliação. Esquece-se o fundamental pormenor de que a implementação da avaliação depende dos próprios docentes.
Diz Vital Moreira que o governo tem de «tornar claro que não cede, aguentar firme e ganhar a população a seu favor contra a tentativa de boicote corporativo, invocando o interesse geral (e sobretudo o interesse da escola e dos alunos) contra os interesse sectoriais e profissionais.»
Quem disse que o interesse dos professores em rejeitar um modelo de avaliação que retira tempo e energia aos professores - e cria ruído ao processo de ensino-aprendizagem - não tem nada a ver com o interesse e não influencia as aprendizagens dos alunos?
Desviar o trabalho docente das tarefas da aprendizagem não afecta a qualidade da Escola e do processo de ensino-aprendizagem?
A ministra da Educação quis pôr todos os portugueses contra os professores, mas acabou com todos os professores contra ela. É a opinião pública que irá ensinar nas escolas? O caldo está entornado e o que nasceu torto dificilmente se endireita.
Eleitoralmente, mesmo que o governo cedesse, não iria recuperar os professores, terá razão Vital Moreira, mas poderia evitar ainda mais desgaste. Já se fala em Maria de Lurdes Rodrigues como o Correia de Campos de saias. Mas isso é assunto que cabe ao governo gerir. Para quem considera a maioria absoluta importante para governar...
Como referiu José Miguel Júdice ontem, no Público (14.11.2008): «a estratégia de enfrentamento com uma classe profissional pode ser uma boa estratégia, se o Governo tiver razão, aguentar, não alienar a opinião pública [que é muito volátil], conseguir ganhar a batalha e se a vitória servir para alguma coisa. Mas, se um destas condições falhar, a estratégia é completamente errada e contraproducente.»
Recorde-se:
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