O Ministério da Educação parece estar disposto, segundo o secretário de Estado Jorge Pedreira, a aceitar outro modelo desde que assegure a diferenciação entre docentes, por via do mérito.
No entanto, apesar do actual modelo de avaliação ser impraticável («não faz sentido falar de suspensão de algo que está parado», disse o presidente da Confederação de Associações de Pais) a tutela governativa insiste em forçá-lo para este ano lectivo, após o segundo simplex. Aceita alterar apenas para o próximo ano lectivo, porque já vamos em Novembro.
Percebemos que as quotas, a divisão entre professores titulares e não titulares e o concurso arbitrário para titulares minou todo o processo. O ME foi impondo até onde conseguiu, até os docentes acordarem a saírem para a rua unidos como nunca antes.
Um coisa é certa, «não se pode parar as escolas por causa da avaliação de professores», disse bem uma professora. E o actual modelo bloqueou as escolas.
Maria do Céu Roldão, especialista em formação de professores, deveria ir ao terreno perceber quanto é ilusório pensar que o «sucesso [escolar] só pode ser feito com a melhoria considerável dos professores».
Primeiro, é uma ilusão pensar que o professor, empunhando a pedagogia, pode mudar o mundo a partir da sala de aula, em quaisquer condições e circunstâncias: Escola ideal é diferente da escola real.
Segundo, está a considerar que é relativamente baixa a competência dos professores. Em terceiro lugar, professores competentes sem condições (atitude positiva perante o trabalho intelectual dos jovens e disciplina comportamental ou boa organização/gestão educativa das escolas), para pôr em rendimento a sua competência pedagógica, não conseguem fazer milagres. Sentem-se subaproveitados.
Nos anos 80 e 90 os professores passaram a ter formação superior de forma generalizada e, apesar disso, essa melhor preparação não se traduz em elevado sucesso escolar. Olhe-se aos contextos sociais e culturais...
A ideia que o secretário de Estado da Educação passou de que o modelo de avaliação de professores iria combater e resolver o insucesso escolar é errada. Demagógico se intencional e um equívoco se ele crê nisso. O actual modelo de avaliação do desempenho, ao desviar as escolas e os docentes do processo de ensino-aprendizagem, o cerne de tudo, não contribui em nada, até prejudica, para um melhor ensino dos professores e uma melhor aprendizagem dos estudantes.
Como disse a docente da escola de Beiriz, o ME que se preocupe mais com que os «professores tenham condições de trabalho», para se centrarem no trabalho pedagógico e serem apoiados por estruturas nas próprias escolas, já que os docentes não podem resolver problemas que os ultrapassam, de foro pessoal, social, cultural ou económico das crianças e jovens. A escola e o docente têm de se concentrar (recentrar) na missão de ensinar. Para o fazer bem.
Se o contexto socio-cultural tem um peso determinante no insucesso escolar, o ME não precisa, como disse o secretário de Estado da Educação, de «agir sobre as famílias», embora o Governo possa fazê-lo. Contudo reconheceu o peso dessa envolvente social ao afirmar o seguinte: «podemos agir sobre a escola e a Educação». O professor também. Não exija que resolvam problemas que estão além do docente e da escola.
Deveria experimentar o ME agir de outra forma, para dar melhores condições de trabalho aos docentes, em vez de ter a prioridade de destruir carreiras e cortar nos salários. Em vez de introduzir factores de laxismo no trabalho e atitude dos estudantes para fabricar resultados e estatísticas eleitoralistas. Em vez de negar a violência nas escolas, entre outras realidades.
Por que razão não experimentaram o modelo de avaliação antes de o generalizar? Por que motivo a atitude autoritária e prepotente relativamente aos docentes, maltratados em todo o processo?
A realidade dos factos já suspendeu o modelo. É tempo de partir para outro, implicando a revisão do Estatuto da Carreira Docente.
Como perguntou uma docente, qual é o país da Europa que dividiu os professores em titulares e não titulares? Porque continuam todos a ser professores, ou seja, a profissão tem o mesmo conteúdo funcional para ambas as classes. Os danos serão muitos.
Proposta de leitura:
Prós e Contras: a questão (não) central?
http://raivaescondida.wordpress.com/2008/11/25/o-pior-momento-do-pros-e-contras-a-acusacao-da-armandina-pce-da-escola-da-vialonga/
ResponderEliminarEstou de acordo com a sua análise de uma forma geral.
ResponderEliminarConfesso que fiquei aqui mais tempo a ouvir uma música. Depois vi um pouco o blogue e posso dizer que gostei bastante.
Susana