«Persistir na ofensiva e na ficção é um grave erro. E a lei não pode estar contra toda uma classe profissional e a gerar óbvios malefícios nos alunos e nos ambientes escolares. Porque será certamente iníqua. E portanto tem de ser mudada. Tão simples como isto.»
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Matias Alves, professor que recentemente abandonou o Conselho Científico para a Avaliação de Professores (CCAP), órgão criado pelo Ministério da Educação para supervisionar o processo da avaliação do desempenho dos docentes, escreveu no seu blogue o texto Jogar claro.
Com uma clareza cristalina - a contrariar o discurso mentiroso e manipulador, inclusive do Primeiro Ministro, na vã tentativa de colocar, mais uma vez, a opinião pública contra os professores, exacerbando a revolta e indignação dos profissionais da Educação por tamanha desconsideração e ataque à sua dignidade -, o referido docente esclarece:
«Num momento em que a serenidade deveria habitar os discursos e as práticas de todos os responsáveis educativos; e em que era imperativo um acrescido esforço de verdade e de clareza; e em que se deveria saber que todas as tentativas de enviesamento e manipulação são contraproducentes, parece-me sensato e urgente afirmar o seguinte:
a) os professores sempre foram avaliados. Desde o Estado Novo e até 1989 os professores sempre foram avaliados de forma administrativa. Pela lógica de presunção da competência e segundo o estilo burocrático, o trabalho dos professores presumia-se Bom, a não ser que tivesse faltas injustificadas ou tivesse tido procedimento disciplinar.
b) com o estatuto do Ministro Roberto Carneiro, em 1989, foi introduzido um novo modelo de avaliação mais ligado às práticas efectivas, tendo-se até criado uma prova externa de acesso ao 8º escalão.
c) com o governo de António Guterres (de que o actual primeiro-ministro fazia parte) foi abolida essa prova de acesso, provavelmente porque se concluiu que o efeito de filtro praticamente não tinha impacto, e instaurado um procedimento de matriz burocrático-administrativo que realmente praticamente nada avaliava.
d) os autores dos modelos de avaliação anteriores foram os diferentes governos e não os professores.
e) não é verdadeira a afirmação de que nos últimos 30 anos os professores nunca foram avaliados. As meias verdades não são úteis neste contexto.
f) não é útil neste contexto continuar a atirar para os professores o ónus de que eles é que não querem, eles é que, e é que. Pode render dividendos. Mas é péssimo para a educação portuguesa.
g) pode haver professores que não querem ser efectivamente avaliados. Mas não se pode generalizar. E se tantos milhares reclamam e prostestam não podem ser todos mentecaptos. Persistir na ofensiva e na ficção é um grave erro. E a lei não pode estar contra toda uma classe profissional e a gerar óbvios malefícios nos alunos e nos ambientes escolares. Porque será certamente iníqua. E portanto tem de ser mudada. Tão simples como isto.
PS às 22:12
Mesmo no modelo de Marçal Grilo/António Guterres do Satisfaz para todos houve professores que recusaram o satisfaz que todos tinham e exigiram (e conseguiram) uma avaliação bastante rigorosa e fiável que distinguisse a sua acção e o seu mérito profissional. Também por isso não se pode afirmar o que se está a afirmar. A ética política não o deveria permitir.»
Recorde-se:
Professores de luto e em luta 93: mais uma mega manifestação por causa do modelo de avaliação
Professores de luto e em luta 92: inutilidade do CCAP
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