«Um número indeterminado de escolas e de docentes vivem na asfixia. Ninguém está a ganhar nestes ambientes. Todos estão a perder. Os alunos, as famílias, os professores, as escolas. Em última análise, o próprio Ministério.»
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A capital recebe hoje mais uma mega manifestação dos professores portugueses, prova de que tantas pessoas se mobilizam por alguma razão. A srª ministra da Educação ainda pensa que é uma mera inventona dos sindicatos?
Depois do 5 de Outubro de 2006 e o 8 de Março de 2008, vem aí mais uma prova da capacidade de resistência e indignação dos professores. Em menos de um ano, mais de dois terços dos professores saem à rua. "Da indignação à exigência" é o lema que vai guiar os professores na capital, no Terreiro do Paço, hoje às 14h30.
O objectivo é exigir a mudança e simplificação do actual modelo de avaliação «impossível», que está a sobrecarregar escolas e professores com burocracia infindável e a desviar os recursos humanos do trabalho essencial de ensino-aprendizagem, na sala de aula, com os estudantes.
Faz sentido os professores estarem mais ocupados e absorvidos com tarefas burocrático-administrativas ligadas à sua carreira do que nas tarefas escolares?
José Matias Alves, professor que participou, até há pouco tempo, no Conselho Científico para a Avaliação de Professores (CCAP), órgão criado pelo Ministério da Educação para supervisionar este processo, escreveu o seguinte:
«Sempre pensei e escrevi e disse que este modelo de avaliação de desempenho era impossível. Sempre pensei e escrevi e disse que era desejável que este ano lectivo se seguisse a recomendação nº 2 do CCAP. Porque permitia às escolas e aos professores organizarem-se numa outra lógica de acção: mais sensata, mais económica, mais holística. Com, provavelmente, menos danos colaterais. Com menos falsificações. Com menos faz-de-conta. Não que se resolvesse o problema de fundo. Mas, a meu ver, atenuava-se e poderia permitir ambientes mais respiráveis até uma revisão obrigatória para o 2º ciclo avaliativo. Que vai ser inevitável.
Agora, um número indeterminado de escolas e de docentes vivem na asfixia. Na maldição do tempo. Na invenção de realidades. Na fuga. Na revolta mais ou menos latente. A raiar o esgotamento e a desmotivação. Não serão todas. Mas serão, provavelmente, a maioria.
E isto causa dilacerantes problemas éticos. Ameaças identitárias cujos impactos no ser e estar na profissão são muito difíceis de prever. Ninguém está a ganhar nestes ambientes. Todos estão a perder. Os alunos, as famílias, os professores, as escolas. Em última análise, o próprio Ministério. Obviamente.
Salvam-se apenas aquelas (suponho que poucas) escolas que tiveram a inteligência (e alguma ousadia) de colocar os alunos primeiro. De centrarem a acção e o tempo dos professores na tarefa de ensinar e de avaliar o resultado da sua acção profissional. De criarem dispositivos de securização.
Como professor que procura ler e compreender o que (não) se passa, não posso deixar de compreender as razões e os sentimentos que vão levar os professores e educadores a Lisboa no dia 8 de Novembro (no que à avaliação de desempenho diz respeito). E de desejar que um compromisso seja possível em nome do mais importante: as pessoas e as suas aprendizagens.»
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