«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sexta-feira, novembro 14, 2008

Rabaçal em risco XVIII [Rabaçal at risk in Madeira Island]: desmontar os objectivos

Por que razão não se faz um inquérito aos verdadeiros destinatários do teleférico do Rabaçal, os turistas consumidores deste tipo de produto? Pelo medo de as conclusões o inviabilizarem, turística e economicamente?
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João Welsh, num artigo intitulado Objectivo Teleférico do Rabaçal?, no Diário de ontem, refere o seguinte:

«Acredito que o verdadeiro debate, o que realmente interessa sobre esta matéria, é questionarmo-nos sobre os objectivos que visamos com o referido investimento:

a) Promover desenvolvimento económico e emprego?
b)Promover obras para o sector da construção civil?
c)Promover equipamentos de lazer para os madeirenses?
d)Promover a defesa responsável da natureza, da paisagem, do ambiente?
e)Promover a valorização do produto turístico - Destino Madeira?

Se o objectivo é o nosso desenvolvimento económico, a decisão só poderá ser tomada depois de encontradas as respostas às questões d) e e) sobre o interesse ou não deste investimento para o desenvolvimento do turismo e do ambiente. O emprego fica também condicionado às mesmas respostas. Meia dúzia de postos de trabalho não o justificam só por si.

Quanto ao objectivo b) impõe-se a questão: é a construção civil uma locomotiva de qualquer economia ou uma carruagem? Claramente é uma das carruagens e não a locomotiva. É um sector consequência de actividades de natureza produtiva e não ao contrário. Se assim não for, a riqueza que gera é efémera. Em suma, nunca pode ser um fim em si mesmo, especialmente quando põe em causa os sectores verdadeiramente produtivos.

Relativamente ao objectivo c) poderá de facto ser visto como uma boa medida, desde que, face ao dinheiro disponível - recurso escasso - não existam outras prioridades. Também, desde que, não afecte as questões "core" d) e e), essas sim, vitais para o crescimento do nosso poder de compra e consequentemente da nossa qualidade de vida.

Passando à questão d) gera-se logo o pensamento intuitivo e de simples bom senso que a resposta clara - independentemente de todos os estudos - é que a natureza está melhor sem teleférico do que com este pela simples razão de que é um elemento que não faz parte da natureza. Demasiado básico, mas factual!

Sobre a última questão e) se o objectivo deste investimento é promover a valorização do nosso produto turístico, ou seja, tornar o destino mais atractivo, gerar mais fluxos de turistas para a região e aumentar as receitas por via da captação de turistas com mais poder de compra, parece-me que faltará a todo este processo um passo crucial, que é o de ouvir o que pensa o nosso público-alvo sobre um tal projecto. Bastaria um inquérito junto do segmento de turistas consumidores do rabaçal, da laurissilva, das levadas, dos trilhos e em geral da nossa natureza, para concluirmos do seu interesse ou não em ter um teleférico.

Só após concluído este inquérito de opinião é que podemos aferir, com responsabilidade, se estamos a avançar para um investimento que irá melhorar o nosso produto turístico, as receitas turísticas, o grau de satisfação e a fidelização dos nossos turistas, ou, pelo contrário, se é um investimento que nos irá penalizar, descaracterizar, danificar a nossa imagem e distanciar-nos ainda mais dos destinos considerados de desenvolvimento ambiental sustentável.

Se o investimento for positivo e muito valorizado pelos turistas então, só aí, faz sentido estudar o impacto ambiental. Se não for do interesse destes, vamos estar a promover um investimento com um único objectivo que é prejudicar o nosso destino turístico, provocar queda de receitas, gerar reclamações e tudo o que não ajuda a nossa promoção?

Um destino turístico tem de ser trabalhado e construído com uma visão holística e não resultado de impulsos pontuais e avulsos.

Recordo que ficou bem claro na Conferência de Turismo da Ordem dos Economistas (fórum de excelência) que a nossa natureza, a nossa paisagem, o nosso ambiente são o nosso principal activo e atractivo. É o que os nossos turistas mais valorizam! A nossa riqueza depende do turismo. O turismo depende de uma visão correcta. Esta requer um Plano Estratégico sério. A implementação deste com sucesso, depende de coerência, consistência e integridade. Nada disto se faz sem percebermos quais são os nossos verdadeiros objectivos. Os objectivos de valor para o turismo!»

Recorde-se:
Rabaçal at risk in Madeira Island XVII : tudo decidido
Rabaçal at risk in Madeira Island XVI : stop the madness
Rabaçal at risk in Madeira Island XV : petição / petition

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