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Por que motivo estas cenas extremadas não têm lugar na Assembleia da República ou na Assembleia Legislativa dos Açores?
Com a reacção da maioria parlamentar do PSD Madeira, o acto condenável do deputado José Manuel Coelho passa para segundo plano. Porque os social-democratas da Madeira decidiram combater o fogo com fogo, isto é, responderam de forma (tão) extremada, não observando as regras jurídico-constitucionais, incluindo o Estatuto Político-Administrativo da RAM.
Se o objectivo do PND era suscitar e expor a prepotência da maioria absoluta parlamentar madeirense e, com isso, provocar um estrondo mediático ao nível nacional, a estratégia teve um absoluto sucesso. O assunto abriu, por exemplo, o telejornal da RTP1 e foram-lhe dedicados mais de oito minutos. Atirou, para segundo plano, a discussão do Orçamento de Estado. Deve estar contente José Sócrates.
A maioria absoluta de 30 anos do PSD Madeira e a passividade da sociedade civil sobre os actos da governação leva os social-democratas a descuidarem-se, a se julgarem intocáveis, ao "quero, posso e mando". Fica tudo à mostra.
Erro de palmatória. Ao reagirem no calor do momento, sem racionalizar ou verificar da legalidade dos actos contra José Manuel Coelho, acabam por vitimizar este deputado e desnudar a prepotência e a (falta de) qualidade da convivência democrática na Madeira. Sem esquecer que fica exposta a estratégia, através do regimento (hoje chamado de «rolo compressor das oposições»), de "calar" as oposições no parlamento regional.
Não são os outros partidos que estão a branquear a acção radical do deputado do PND, como disse hoje Hugo Velosa, na Assembleia da República. É o próprio PSD Madeira que, com a sua decisão anti-democrática e anti-constitucional, o está a fazer. Estão a condenar, sem audição e sem acusação judicial, como se houvesse delito de opinião.
O conceito de que "para grandes males, grande remédios", expresso pelo presidente da Assembleia Legislativa da Madeira (ALM), não é sensato nem legal. Esperava outra postura de Miguel Mendonça, um possível sucessor de Alberto João Jardim. O argumento da indisciplina não pega, porque indisciplina, falta de conduta e insultos na ALM existe há muito tempo, praticada pelos deputados da maioria, sem que nunca tivesse gerado semelhante reacção.
Como disse o constitucionalista Jorge Miranda, juridicamente a maioria parlamentar não pode suspender o mandato de um deputado pela expressão de uma opinião, seja ela qual for. Por mais reprovável e ofensiva que seja.
Por isso, tal acto consubstancia abuso de poder. Imagine-se, como lembra aquele constitucionalista, que, a maioria de qualquer assembleia, pudesse suspender algum deputado incómodo...
Só depois de um procedimento criminal e o Ministério Público acusar, definitivamente, o deputado é que a ALM pode actuar nos termos da lei. Por isso, suspender o mandato e usar seguranças privados e a polícia para expulsar o deputado do parlamento é ilegal, anti-constitucional e prepotente. Só alimenta o espectáculo anti-democrático.
Como se não bastasse, a maioria social-democrata aprova (sozinha no interior da ALM - os partidos da oposição abandonaram o hemiciclo) a suspensão dos trabalhos parlamentares, em prejuízo da Região, apenas para levar em diante o "quero, posso e mando", até haver acusação em tribunal contra o deputado do PND.
E depois admiram-se de se falar em défice democrático, como se voltou hoje a ouvir na Assembleia da República. Porque a decisão de suspender José Manuel Coelho, além de anti-contitucional, é «contrária aos princípios democráticos», como sublinhou Jorge Miranda.
Mais uma machadada na democracia, no prestígio e na imagem da Autonomia da Madeira.
Recorde-se:
Radicalização no parlamento da Madeira I
Abuso de poder : Vital Moreira
Abuso de poder 2 : Vital Moreira
Humor:
Nazismos
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