Sandra Barata Belo no papel de Amália.
Como melómano e português, de cuja estrutura cultural o Fado faz parte, mesmo que involuntariamente, lá fui ver Amália, o filme.
Mas não vou falar, para já, do filme. Vou dar prioridade à banda sonora, que alguém escreveu ser «fruto das melhorias técnicas», em que, supostamente, surge realçada a «pujança vocal da artista». São 22 temas restaurados e remasterizados a partir dos originais. Pode-se ouvir excertos na página oficial do filme.
E aqui surge o problema. Se normalmente é preciso ter cuidado - restauração e remasterização não significam, necessariamente, melhor qualidade ou musicalidade - então quando o trabalhinho se fica pelo território nacional, como neste caso, o resultado é o que é.
Ouço três ou quatro temas de Amália, pela melancolia, tom lúgubre e taciturno, som exótico da guitarra portuguesa e qualidade dos poemas: Gaivota, Com que voz e Povo que lavas no rio.
Dando ouvidos ao audiófilo que há em mim, comprei a banda sonora pensando que teria estes temas com melhor qualidade sonora. Nada disso. Gaivota abre o disco e, comparando com outra gravação em CD, até soa melhor, no imediato. Quando se ultrapassa essa primeira impressão sensorial, nota-se que a remasterização de Paulo Jorge Ferreira, no Audiopro, lixou muita coisa: o som está mais agudo, brilhante, mais frontal, limpo, despido, clínico e notamos maior sibilância na voz. Há qualquer coisa, qualquer calor e envolvimento, que se perde na voz de Amália.
Volto a colocar a gravação contida no O melhor de Amália, estranha forma de vida e a preferência é clara. O mesmo acontece com Povo que lavas no rio, que soa sem corpo e fininho, bem como o eco de fundo mais nítido. Quanto à faixa Com que voz não noto especial diferença.
Dois outros temas estão ainda piores. Estranha forma de vida e Abandono agunizam com o eco que se prolonga e interfere com a fruição da música. No que toca ao primeiro, em comparação com o mesmo tema inserido na colectânea já mencionada, percebe-se que o som tem menos ruído mas a remasterização traz para primeiro plano o eco de uma forma intrusiva.
Pena a editora não cuidar melhor do património musical da diva do Fado, assegurando os melhores meios possíveis, técnicos e estúdios, para garantia de qualidade.
Ainda:
IMBD
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