A opinião pública que se indigna com mais uns euros para os professores e apoia a mão dura deste governo, não se indigna com os milhões do seu dinheiro que vai para a banca.
Mário Soares, no Diário de Notícias 16.12.2008, justifica a nossa receita de indignação (banda sonora para terminar 2008 em alta):
«A crise aprofunda-se e generaliza-se. Os Estados desviam milhões, que vêm directamente dos bolsos dos contribuintes, para evitar as falências de bancos mal geridos ou que se meteram em escandalosas negociatas. Será necessário.
Mas o povo pergunta: e as roubalheiras, ficam impunes? E o sistema que as permitiu - os paraísos fiscais -, os chorudos vencimentos (multimilionários) de gestores incompetentes e pouco sérios, ficam na mesma? E os auditores que fecharam os olhos - ou não os abriram suficientemente - e os dirigentes políticos que se acomodaram ao sistema, não agiram e nem sequer alertaram, continuam nos mesmos lugares cimeiros, limitando-se a pedir, agora, mais intervenções do Estado, com a mesma desfaçatez com que antes reclamavam “menos Estado” e mais e mais privatizações?
Pedem-se e pediram-se sacrifícios para cumprir as metas do défice, impostas por Bruxelas. Mas, ao mesmo tempo, os multimilionários engordaram - os mesmos que agora emagreceram na roleta russa das economias de casino - e os responsáveis políticos (os mesmos, por quase toda a Europa) não pensam em mudar o paradigma ou não anunciam essa intenção e não explicam sequer aos eleitores comuns, os eternos sacrificados, como vão gastar o dinheiro que utilizam para salvar os bancos e as grandes empresas da falência, aparentemente deixando tudo na mesma?»
E há dirigentres políticos e opinion makers a eles afectos preocupados com os cêntimos que roubam aos professores, em salário, carreira e condições de trabalho, em vez de se preocuparem com os milhões que a banca e grandes empresas estão a levar do Estado.
A opinião pública que sabe maldizer os docentes e apoiar o governo na sua cruzada neoliberal (New Public Management do FMI e outros que tal) no corte de salários, não se indigna com estes milhões do seu dinheiro desviado para a banca e para os gestores que nos mergulharam na actual crise, de gravidade ainda não totalmente descortinada.
Alguns euros para um professor parece um crime, milhões de euros para um gestor corrupto é uma boa acção...
Os mesmos governantes que querem «quebrar a espinha aos sindicatos» e o mesmo Estado que corta na Educação, mas que fica bem nos discursos dizer que prepara o futuro de um país..., esbanja nas dádivas de milhões à banca e aos especuladores fazedores de crises.
Recorde-se:
Campanha contra o sindicalismo
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