Em vez do Estado cortar nas despesas supérfluas e nas mordomias inaceitáveis de muitos serviços públicos, bem como enfrentar a corrupção generalizada, quer baratear a mão-de-obra dos profissionais do ensino.
cartoon copyright: Anterozoíde
A divisão da carreira entre duas categorias (professor titular e professor não titular) e um modelo de avaliação maléfica e monstruosamente burocrático de Maria de Lurdes Rodrigues, a anterior ministra da Educação, para impedir a progressão da maioria dos professores a partir do 5º escalão, deram lugar a outra estratégia. Camuflada pela alegada «carreira única», mas com várias divisões (categorias não expressas).
A equipa liderada por Isabel Alçada optou agora por atingir os mesmos (ou até melhores...) fins de barateamento da mão-de-obra (a profissão será cada vez mais a profissão dos mil euros, não obstante ser uma carreira técnica-superior e de elevado desgaste e responsabilidade social) prometendo desburocratizar o modelo de avaliação, mas aumentando as barreiras para a progressão.
Assim, de acordo com a proposta de Isabel Alçada, em vez do actual bloqueio na transição de professor para professor titular, surgem não um, nem dois mas sim três momentos de estrangulamento da progressão, não importa o mérito do professor. Seja Bom, Muito Bom ou Excelente terá de aguardar por vaga (vagas fixadas anualmente) para acesso ao 3º, 5º e 7º escalões.
Está bonito está. Estes mecanismos constrangedores podem ainda ser mais penalizadores para os professores do que a divisão em duas categorias.
Na prática, não há categorias, mas elas estão implícitas. De duas (professor titular e professor não titular) passa a haver 6 categorias: o professor abaixo do 3º escalão, no 3º, abaixo do 5º, no 5º, abaixo do 7º, no ou acima do 7º escalão.
Faz lembrar a estratégia da Madeira, no constrangimento criado (prova pública) para acesso ao 6º escalão, que divide, na realidade, os professores em duas categorias, embora não o verbalizando.
O futuro não é risonho, sobretudo quem anda ainda pelos primeiros escalões da carreira. Ora vejamos: o Governo quer reduzir X na despesa com salários de professores. Quem está nos escalões mais adiantados, a partir de meio da carreira (actual 5º escalão) não podem cortar nada (do que já ganham agora, note-se). Ora, esta "despesa a mais", a que o Governo não pode deitar a mão, será compensada pelos professores mais novos dos quadros e pelos professores com vínculo precário (contratados). São estes duplamente penalizados.
O grande fosso entre professores não será divisão em categorias, nem as quotas para acesso a determinados escalões. O real fosso entre professores cavar-se-á entre os salários de 1.000 euros (para a maioria ou toda a carreira) e os salários de 1.500 a 2.000 euros.
Rouba-se salário, carreira e condições de exercício da sua profissão e, ainda por cima, pedimos-lhes milagres - em nome da consciência profissional, panaceia para todos os males. E como os professores têm essa coisa mística da vocação (chamamento) e da consciência profissional nem é preciso remunerar o trabalho decentemente.
A Educação do País não vai a lugar nenhum enquanto não se entender que a progressão na carreira docente terá de ser um prémio para os melhores.
ResponderEliminarÉ totalmente inútil a avaliação. Até porque todas as avaliações que se inventem serão chumbadas pelos sindicatos. Querem ser avaliados, dizem, mas, consequências: zero.
Que motivação terão os professores bons para se manterem bons? E os medíocres para melhorarem? E os maus para o deixar de ser?
Nenhuma, caso todos, sem excepção e diferença forem progredindo na carreira e no salário ao ritmo que sobras as suas velas nos seus aniversários...
Obrigado pelo comentário. Este, por sua vez, suscitou outros pensamentos:
ResponderEliminarhttp://olhodefogo.blogspot.com/2009/12/baratear-ainda-mais-o-trabalho-dos.html