«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

terça-feira, janeiro 26, 2010

Crime, dizem eles

Introduzir mais um elo na cadeia é um sacrilégio do ponto de vista audiófilo, mas musicalmente o "crime" pode compensar.

Desde que comprei uma aparelhagem nos idos anos 80 (No início foi o walkman), que sempre regulei o controlos de tonalidade no meu amplificador Marantz PM25, um aparelho de entrada, que nada tinha de audiófilo. Retirava ganho no Treble e adicionava mais calor nos graves por via do botão do Bass.

Uma amplificação que inclui controlos de tonalidade não é audiófila, porque está a interferir na verdade da reprodução musical, ao cortarmos algumas frequências. Um dos aspectos positivos da audiofilia é esse princípio de ter o som o mais directo possível, para a menor perda possível da qualidade do sinal. O equilíbrio tem de ser conseguido na difícil conjugação (harmonização) entre a fonte, a amplificação e as colunas, com os cabos de interconexão (liga os aparelhos uns aos outros) e os cabos de coluna pelo meio.

O som puro do amplificador é como um sinal de virilidade. Mesmo quando a intervenção é subtil como no caso deste X-Tone.

Usar ou não controlos de tonalidade tem a ver com a sensibilidade auditiva e a forma como cada um ouve música (os sons). Há ouvidos que gostam de mais agudos, outros de menos agudos. Os meus enquadram-se no segundo tipo, mais sensíveis aos agudos (à volta dos 15 kHz). E valorizo mais os graves. Tem também a ver com a cultura e hábitos auditivos de cada um.

Uma vez, numa loja de audio, durante uma demonstração, o vendedor chegou a dizer que não era normal a minha forma de ouvir música, ao querer os graves bem presentes e os agudos mais recuados (um som desiquilibrado...). Sãoa gudos menos transparentes, frontais, recortados, detalhados, entre outros atributos audiófilos, que tornam o som mais agudo e com demasiada informação nesta zona de frequência, a que o ouvido humano é particularmente sensível.

Não sei como me aventurei na audiofilia, já que esta tende a realçar mais os agudos: é a transparência, a extensão de frequência, o recorte, o detalhe... Ainda por cima para ouvir, basicamente, música rock, com guitarras, distorção e gravações muitas vezes nada audiófilas. Foi um percurso de aprendizagem, com os seus sabores e dissabores.

O X-Tone da Musical Fidelity pode constituir um downgrading audiófilo e um upgrading musical. Permite retirar ganho nos agudos extremos (5, 10 ou 15kHz), de uma forma fina, sem perder o conteúdo e impacto na gama média. O som torna-se mais quente, confortável, musical. Os graves parecem mais firmes e reforçados. O volume pode ser mais alto que não fere nem induz cansaço precocemente.

Se a manipulação da tonalidade não for conseguida apenas pela via dos cabos e/ou combinação harmoniosa dos vários componentes da aparelhagem (seguindo as boas regras audiófilas), processo que envolve toneladas de subjectividade, então é altura para o X-Tone entrar em cena, a intrometer-se entre a fonte e a amplificação. No caso de haver um pré-amplificador, pode ser colocado entre o pré e o amplificador de potência.

Se retirarmos um pequeno ganho nos 5kHz, por exemplo, os agudos mais extremos, há quem refira que torna o som mais limpo, mais focado, melhorando a separação. É ainda relatado que esse corte subtil torna o som mais cheio, com mais corpo, sem perder brilho ou ataque.

Mas, não tive que chegar ao X-Tone, quando fui particularmente desafiado pelo som dos pratos de choque e do prato crash de um disco. Tenho um cabo Straight Wire Duet a alimentar a coluna na secção das baixas frequências (muito bom no recorte quanto baste, profundidade e impacto do grave, sem ser audiófilo no sentido mais puro: high end) e, para ter os agudos menos presentes e frontais (menos audiófilos, isto é, mais velados), introduzi um cabo mais antigo ("inferior") da Straight Wire, o Waveguide 8", a alimentar a coluna (permite bi-cabelagem), nas frequências mais elevadas.

A minha tendência em debelar (velar) os agudos e dar mais calor aos graves pode ser mais mania do que necessidade... Uma visão mais de pormenor do que holística. É importante não se perder nos detalhes, para não trair o melómano. Para não esquecer que a música é o que realmente importa entre aparelhos e cabos para a reprodução sonora.

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