«Como não rebentou o que eu fiz, a reconstrução que eu vou fazer é seguindo a linha do que até agora fiz»
«Eu dei instruções a toda a gente que trabalha comigo que tudo o que seja calúnia, tudo o que seja acusação não fundamentada mandei levantar processos», disse o presidente do Governo Regional, na Grande Entrevista (RTP1, 25.2.2010), para condicionar a acção dos «abutres», que venham criticar as opções do Governo Regional que se relacionem com as consequências da catástrofe.
O líder da Região entende que aqueles que apontam erros no ordenamento do território têm como objectivo o «ajuste de contas políticas», reduzindo, por isso, a intervenção de alguns técnicos e académicos (sobre as causas na origem da catástrofe) ao âmbito da luta política. «Para me atacar e atacar a administração pública da Madeira».
Às acusações de falhas na organização e ordenamento do território, o governante madeirense contrapõe a existência de Parque Natural correspondente a «dois terços do território». E justifica a construção de casas em determinadas zonas devido à densidade populacional: «Eu tenho três vezes a densidade populacional do Continente, que vive apenas num terço do território.»
«Esta gente vivia na miséria até à Autonomia [e] fizeram a sua casinha no pequenino bocado de terra onde podiam ir fazendo...», continuou o governante, tendo a entrevistadora interrompido para dizer que «agora ficaram sem as casas.» Alberto João Jardim responde: «faltam 320 casas e vou fazê-las.»
E continuou o seu raciocínio: «E chegava aqui e o que eu fazia? Ia dizer casas todas abaixo e a senhora emprestava-me um barco para mandar embora dois terços da população da Madeira.» E remata: «É bom falar e dizer umas asneiradas. É bom os abutres se exibirem...»
Como declarou na Grande Entrevista, «com a vida das pessoas não se brinca». Bem como «com quem está sem abrigo não se brinca, com quem não tem acessos não se brinca, com quem vê os seus negócios de uma vida inteira prejudicados não se brinca». Isto a propósito da obtenção de verbas para a reconstrução.
«Que lições retira daquilo que aconteceu?», perguntou Judite Sousa, a que o presidente do GR responde: «As lições eu já as conhecia. Porque este é o 18º aluvião que a Madeira sofre». A jornalista insiste: «a culpa não foi só da chuva, pois não?» O governante ironiza: «foi minha, se calhar».
E acrescenta que a culpa «nem foi da chuva.» E diz mais adiante: «a água passou onde devia passar, as ribeiras estão canalizadas. É que não foi a água que rebentou. O que veio foram detritos e o volume de detritos, que veio de montante para juzante, fez saltar a água. Porque se as ribeiras não estavam canalizadas hoje não havia cidade do Funchal.»
Para concluir, o líder regional salienta que «esta política que eu fiz está certa, o que ficou de pé e intocáveis foram as obras da Madeira da Autonomia». Judite Sousa logo perguntou se «tenciona reconstruir tudo tal como como as coisas estavam», a que respondeu o entrevistado: «Como não rebentou o que eu fiz, a reconstrução que eu vou fazer é seguindo a linha do que até agora fiz.» Ou seja, «afastar aquele tipo de construção que vinha do Estado Novo, do Afonso Costa e do D. Carlos, que foi o que me rebentou por aí abaixo.»
A entrevistadora da RTP pergunta: «Não retira responsabilidades políticas nem civis do que aconteceu?» O presidente do GR afirma: «Eu não». E justifica: «Eu não porque o que eu fiz está de pé.»
Tempo esclarecerá:
Dúvidas para a sociedade civil e quem de direito responder
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