«A nossa sociedade não pode continuar a ver o aluno como uma criatura intocável, irresponsabilizável e inimputável»
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«Esta sequência de acontecimentos [suicídio de estudante da uma escola de Mirandela e de um professor de uma escola de Mafra] evidencia bem o estado a que chegámos e revela o grande erro em que persistimos no campo da educação - o aluno está no centro de tudo, enquanto professores e pais são actores secundários, que as orientações do Ministério tentam colocar em lados opostos da barricada», lê-se hoje no Diário, num artigo de opinião.
«A nossa sociedade não pode continuar a ver o aluno como uma criatura intocável, irresponsabilizável e inimputável», continua o articulista Raul Ribeiro. «Na peça do "Público" lia-se que o malogrado Professor Luís era constantemente apodado de "gordo", "careca" e "cão". Mas o mais chocante para mim foi ler a declaração dum dos seus alunos do 9º B,: "Portava-me sempre mal (…) mas somos assim e todas as aulas, é da idade".»
Na verdade, «numa simples frase, dita por um adolescente, que deverá ter entre 13 e 15 anos, está tudo dito sobre as futuras gerações de egoístas sem carácter que estamos formando. O mau comportamento, o insulto e a agressão estão cobertos por um manto de normalidade e resignação, porque não se deve pressionar nem castigar os meninos, para não os traumatizar.»
Acrescentaria que aqui entra a desculpabilização da indisciplina e da violência escolares para a qual a psicologia e a pedagogia muito contribuíram: não há consequência por que se traumatizam os meninos, não se exige trabalho e estudo porque, supostamente, a pedagogia deve fazer o estudante aprender sem esforço e empenho.
«E assim, por todo o Pais, há muitos pais que não são integrados no projecto escolar, e lavam as mãos com a mesma desfaçatez com que ignoram os filhos, muitos professores que se sentem manietados, porque podem levar com uma cadeira na cabeça mas quase não podem levantar a voz, e cada vez mais alunos que reinam, na escola e em casa, porque se aperceberam que quem deveria zelar por eles e impor-lhes regras, lhes concedeu o poder de fazerem o que bem entenderem.»
Isto é, todas as partes no processo educativo têm de assumir as suas responsabilidades. E os alunos não podem ficar de fora.
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