Sei que vivo num país de pântanos, de meias-tintas e de faz-de-conta...
Photo (c) Pedro Cunha/Público
O discurso de relativização e aceitação da indisciplina e da violência nas escolas, que se ouviu nos últimos tempos da boca de responsáveis do sistema educativo, no Continente e na Madeira, é contrariado com novas medidas em termos disciplinares.
Todavia, esses responsáveis vão a reboque dos casos mediáticos dos últimos dias, o que é um sinal preocupante. Um sinal de que governam segundo a agenda mediática, empurrados pelos casos que não conseguem camuflar e esconder. Deviam há muito ter tomado as medidas que a realidade exigia.
Quando não saltam para os jornais e telejornais, os casos de violência não se conhecem; é como se não existissem. É assim que a governação politiqueira da Educação funciona. Por isso, o sector da Educação nunca poderia ser dirigido por políticos a defender os seus cargos e estar refém da agenda política.
Noticiou o Público online ontem que, no âmbito da revisão em curso do Estatuto do Aluno, serão introduzidas alterações ao regime de faltas, «com diferenciação entre faltas justificadas e injustificadas», como anunciado pela ministra da Educação.
A ministra disse ainda que a revisão de alguns pontos deste estatuto visa o «reforço da intervenção preventiva das escolas» em casos de violência ou indisciplina. Mais vale tarde do que nunca, mas os danos estão já feitos e acentuados nos últimos anos.
Na verdade, como lembrou o deputado madeirense José Manuel Rodrigues, a anterior ministra, Maria de Lurdes Rodrigues, «elogiava» o actual Estatuto do Aluno, «alegando que devolvia a autoridade ao professor». Não sei como é possível passar-se impune a tamanha mentira. Espero que a consciência da antiga ministra esteja bem pesada.
António Barreto considerou que a principal inspiração do actual Estatuto do Aluno é a desconfiança dos professores. O documento oscila «entre a burocracia, a teoria integradora das ciências de educação, a ideia de que existe uma democracia na sala de aula e a convicção de que a disciplina é um mal.» Nem mais.
Com a crónica desculpabilização e permissividade relativamente à indisciplina, violência e atitude negativa dos estudantes perante o trabalho escolar, espero para ver as medidas em aplicação concreta. Só vendo para acreditar.
Temo que possam resumir-se a meras medidas (de cosmética) para senerar as críticas que se têm feito sentir a esses responsáveis pela actual bandalheira nas escolas públicas, desde a ministra da Educação às direcções dos estabelecimentos de ensino. Para mostrar que se faz mas sem mudar nada de substantivo e sem ter impacto na realidade. É a tal gestão política... Sei que vivo num país de pântanos, de meias-tintas e de faz-de-conta...
Recorde-se:
«A balbúrdia na escola»
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