«Mas quem suporta olhar para essa realidade que se aproxima e quem se atreve a falar dela? Nem os partidos, nem os portugueses», escreveu Vasco Pulido Valente este domingo |
Sintomático que, à esquerda, só José Sócrates saudou Passos Coelho pela vitória nas eleições. Há uma esquerda que parece encaixar mal a vontade democrática expressa pelo povo, como se ela estivesse na posse da verdade e a maioria dos portugueses estivesse enganada. É preciso humildade democrática e menos arrogância.
Na Madeira, o PS passa a força residual (com o pior resultado de todo o País), a um ponto percentual apenas à frente do CDS-PP. O PSD esmaga, colocando 4 deputados em São Bento, contra 1 do PS e outro do CDS-PP. Longe vão os tempos de 3 para o PS e 3 para o PSD.
O partido de José Manuel Rodrigues ficou à frente do PS em mais de metade dos concelhos, incluindo o Funchal, mas também Câmara de Lobos, Santa Cruz, Santana, Ribeira Brava, Ponta do Sol e Calheta. Neste concelho o PS obteve apenas 5,6%. Um descalabro inadmissível há uns tempos, mas bem real. Será que se vai tentar iludir mais esta realidade? Pensar apenas nos projectos pessoais de poder?
«Será admissível que o Portugal próspero e contente de Cavaco e Guterres, que organizava a "Expo" e o "Europeu", caia em quatro ou cinco anos numa aflitiva miséria?», escreveu este domingo, no Público, Vasco Pulido Valente.
Será admissível «que se percam hoje a segurança e os privilégios de anteontem?», continua o articulista, para depois concluir: «Admissível é. E, mais do que admissível, fatal.» E finalmente a pergunta que nos põe a nu: «Mas quem suporta olhar para essa realidade que se aproxima e quem se atreve a falar dela? Nem os partidos, nem os portugueses.»
Como dizia Pedro Santos Guerreiro (Jornal de Negócios 26.05.2011), «em Portugal há alguns vendedores de ilusões, mas há ainda mais compradores».
Esperemos que Passos Coelho pense primeiro no País e não seja um vendedor de ilusões. Que enfrente e fale da realidade, mesmo que isso tenha custos eleitorais para si e o partido que lidera.
Esperemos que os portugueses, apesar da sua endémica dificuldade de aderir à realidade, e preferência em ouvir as mentiras e ficar pelas ilusões, porque lhes são mais confortáveis, não acordem sobressaltados e muito menos estremunhados, nos próximos tempos.
Não vale a pena nos andarmos a queixar dos maus políticos que escolhemos, quando não queremos olhar a realidade e assumir a nossa responsabilidade na mudança e no crescimento do País.
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