Ouvir um állbum é diferente de ouvir uma compilação de faixas de vários álbuns. A coerênia é outra. Ainda mais num género como o rock progressivo, que tende para a conceptualização. Foi isso que senti de imediato ao ouvir The Least We Can Do is Wave to Each Other, que colocou Van Der Graaf Generator entre os melhores. Tem já lugar entre os meus discos preferidos.
Francamente inovador e consistente ainda hoje, 42 anos depois. Há discos acabados de editar que são bem mais datados e menos inovadores... Há inventividade, genialidade e experimentalismo. Com bom gosto e justa medida (para evitar cair no pretensiosimo ou no exibicionismo técnico...), na criação de temas longos, com estruturas musicais intrincadas com novos padrões intrumentais, texturas e atmosferas, combinando a linguagem e base instrumental do rock (guitarra, bateria, baixo, voz) com a linguagem e instrumentos da área do jazz (saxofones) e da música erudita (flauta, piano e mais tarde violino).
Os temas existencialistas, a atmosfera sombria e melancólica, a vocalização característica de Peter Hammill e os raros solos de guitarra ajudaram a distinguir pela positiva Van Der Graaf Generator das outras bandas de rock progressivo.
A alma levitou nesta primeira audição de The Least We Can Do is Wave to Each Other, o segundo disco destes britânicos, mas que o líder Peter Hammill gosta de considerar como o primeiro, já que foi resultado de um esforço colectivo. O título do disco foi adoptado de uma frase de John Milton: "We're all awash in a sea of blood, and the least we can do is wave to each other".
Peter Hammill, na edição original de 1970, escreveu sobre a abordagem do disco pelo ouvinte: «Don't listen when you're hustling, because it won't get in your head. Don't listen when you're angry, because you'll smash something. Don't listen when you're depressed, because you'll get more so. Don't listen with any preoccupations, because you'll blow it. And if you're a perpetually angry, depressed hustler with set ideas, don't bother, it wasn't meant for you in the first place.» Não é para pessoas com ideias fixas ou gosto musical alinhado pelo mainstream.
(Eu juntava a estas palavras a forma como se deve ouvir um disco pela primeira vez, como o recentemente desaparecido Gil-Scott Heron colocou por escrito, de forma a tirarmos o máximo partido da música.)
Esta é uma versão digitalmente remasterizada, com faixas extras. Nestas coisas nunca se sabe se a remasterização traz prejuízos juntamente com os ganhos na qualidade de som, ao nível dos graves por exemplo. Muitas vezes acontece que se torna tudo demasiado limpo e clínico (perfeito no sentido de artificial), na ânsia de limpar "imperfeições".
Neste caso, sem ter como referência edições anteriores do disco, fiquei mais descansado quando nos créditos surge o nome do líder da banda nesse trabalho de remasterização: «Digital remastering by Peter Hammill in consultation with Hugh Banton, Guy Evans and David Jackson.» Estes três também elementos da banda: teclados, bateria/percussão e saxofone/flauta, respectivamente.
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