«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sábado, novembro 12, 2011

Nova espécie: governo de Passos Coelho é neoliberal marxista-leninista


Uns temem o terramoto liberal, outros temem o terramoto marxista-leninista por parte de Passos Coelho... 
Num momento em que uns capitães de Abril, como Vasco Lourenço ou Otelo de Saraiva de Carvalho, defendem que as medidas de austeridade impostas ultrapassam qualquer política neoliberal e criam um «PREC de direita» ou que se encara a possibilidade de um golpe de Estado, num radicalismo a rivalizar com os neoliberais mais radicais, eis que vem a banca portuguesa acusar o Governo de Passos Coelho de querer nacionalizar os bancos, como no PREC de esquerda de há 36 anos.

Passos Coelho é um perigoso neoliberal ou um perigoso marxista-leninista? Ou será as duas coisas? Em que percentagem cada uma delas? Entendam-se, por favor, porque ninguém aguenta tanta esquizofrenia :)

Estamos a viver um PREC de direita ou um PREC de esquerda? Quem resolve tamanha contradição? Se calhar podem coexistir. Talvez se atinja um equilíbrio qualquer... um liberalismo-marxista ou um marxismo-liberal :) Os extremos por vezes tocam-se.

Até os banqueiros portugueses estão em pé de guerra com o Governo, devido às regras para o acesso à linha de capitalização do sector, prevista no acordo da ‘troika'. Enviaram mesmo uma carta à Comissão Europeia a acusar o Governo de pretender nacionalizar o sector financeiro, comparando essa política às nacionalizações do PREC, em 1975.

Só falta dizer que Passos Coelho vai passar os bancos e as empresas para a mão dos trabalhadores... ou passar as terras para as mãos dos trabalhadores agrícolas, numa reedição da Reforma Agrária. Ao mesmo tempo que é neoliberal nas privatizações...

Enfim, o actual Governo é acusado, em simultâneo, de neoliberal e marxista-leninista (anti-liberal).

Desculpem, isto é divertido.

E alguém tem de manter a serenidade e realismo no meio destes extremismos todos.

Dito isto, acho bem que não se façam certos fretes à banca. O Estado anda a salvar bancos e a recapitalizá-los e não vai exigir garantias? É preciso impor regras ao sector financeiro e evitar a repetição de certas loucuras especulativas, para nem falar em corrupção..., com prejuízo para os contribuintes e os Estados.

Além disso, não devem os mercados e o sector financeiro se sobreporem aos Governos e Estados democráticos (estes controlamos através das eleições, e não só, mas os cidadãos já não controlam o sector financeiro e as multinacionais).

Irrita-me o buraco do BPN ser comparado ao buraco da Madeira. Não estamos a falar da mesma coisa. Tal como o buraco do BPN não pode ser comparado ao buraco nas contas públicas deixado pelos governos de José Sócrates. Com boa (melhor) ou má (pior) gestão, os Estados investem nos serviços públicos e investem nas infraestruturas para usufruto dos cidadãos. Que fez o BPN pelo País?

No recente discurso de tomada de posse do novo Governo Regional, o presidente do Executivo, num discurso mais significativo e de forte crítica ao actual Governo da República PSD/CDS-PP («criar empregos agora, reduzir défices depois», o oposto do que está em curso) do que muitas análises conseguiram ler, há passagens que a esquerda mais esquerda subscreve nas calmas (ou subscreveria se conseguisse esquecer quem é o autor das palavras).

Além de criticar o «capitalismo selvagem», o «liberalismo económico» e os «interesses especulativos da grande finança», aponta o caminho: «torna-se necessário rever o actual sistema capitalista, de herança anglosaxónica, equilibrando a liberdade de mercado com a capacidade interventora dos poderes públicos democráticos

Citando Krugman, continua a crítica ao Governo de Passos Coelho: «Aumentos de impostos e cortes na despesa pública deprimirão ainda mais as economias, agravando o desemprego. Cortar a despesa numa Economia muito deprimida, leva a que qualquer poupança conseguida, seja parcialmente anulada com a redução das receitas, à medida que a economia diminui. Se os investidores decidirem que estão perante políticos que não encaram problemas de longo prazo, desta forma é que deixarão de comprar a dívida e de financiar um País».

Para logo a seguir defender o primado da política sobre a Economia e as soluções dos tecnocratas serem temperadas e adaptadas, numa nova crítica ao Executivo de Passos Coelho, nomeadamente ao ministro das Finanças. Entretanto, a substituição de políticos por tecnocratas, em curso tanto na Grécia como na Itália, falam por si.

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Imagem: jornal I de 20 de Julho de 2011

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