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sábado, junho 27, 2009

Cavaco Silva faz a vontade à maioria dos partidos em prejuízo do interesse nacional e dos cidadãos

Os interesses eleitorais dos partidos políticos não são sempre coincidentes com o interesse nacional e dos cidadãos. O Presidente da República deveria ter optado por defender o interesse destes e não o cálculo puramente partidário, mesmo que depois se sujeitasse a críticas dos senhores dos partidos. A posição da maioria dos partidos não é o critério mais importante.
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Dois pesos e duas medidas. O Presidente da República, que esteve muito bem em contrariar a vontade ou interesses partidários ao vetar, em 9 de Junho último, a nova lei do financiamento dos partidos (apontando “várias objecções de fundo” ao diploma, como o “aumento substancial do financiamento pecuniário não titulado” ou a possibilidade dos partidos obterem lucros nas campanhas) esteve mal em fazer agora a vontade à maioria dos actores partidários, no que toca à marcação da data das eleições legislativas.

Desconfiamos que essa nem seria o desejo de Cavaco Silva, mas deve ter ponderado mais a sua salvaguarda política, para não ser conotado com a posição do PSD, o único partido a defender legislativas e autárquicas em simultâneo, e evitar comprar guerras com as restantes forças partidárias.

Recorde-se que a lei do financiamento dos partidos, aprovada por todos os partidos - aqui se vê como olham o interesse nacional e a opinião dos eleitores - subia em mais de um milhão de euros de 22.500 para 1.257.660 euros o limite das entradas em dinheiro vivo nos partidos, bem como previa um aumento de mais de 55 vezes em relação ao tecto actual (aplica-se às quotas e contribuições dos militantes e ao produto das actividades de angariação de fundos).

Este abuso na utilização de dinheiros públicos foi muito bem vetado por Cavaco Silva (recorde-se também que na Madeira houve o famoso Jackpot...). No entanto, se tivesse optado por legislativas e autárquicas na mesma data, além de minimizar a abstenção, teria poupado esses mesmos dinheiros públicos. O Estado gastaria menos, mas também os partidos e os órgãos de comunicação social. Mas, os partidos estão mais interessados em gastar... sempre em nome da democracia, está claro...

E não me venham os partidos com a treta de que a democracia tem um preço. Achei piada o economista Francisco Louçã do BE, que se diz tão preocupado com os desempregados e os pobres, que tenha ridicularizado a poupança que se faria com a simultaneidade dos actos eleitorais. Disse, demagogicamente, que equivaleria aos gastos da iluminação de Natal na Avenida da Liberdade (Lisboa). Deveria antes ter proposto a poupança, em favor de quem mais precisa em tempo de crise, não aprovando a tal lei de financiamento dos partidos nem dois actos eleitorais separados, apesar de tão próximos.

Achei também piada ao CDS-PP, que aprova mais despesa com a defesa dos dois actos eleitorais em datas diferentes, mas que declara, na reacção à decisão de hoje de Cavaco Silva, que espera que os partidos façam campanhas contidas em termos de aplicação de recursos... Será para descargo da consciência?

Falsos moralismos e demagogia. Os senhores dos partidos ainda não perceberam que assim descredibilizam a Democracia. O perigo para a democracia não vem da simultaneidade de legislativas e autárquicas.

O Presidente da República deveria ter dado primazia à poupança de recursos em tempo de tão profunda crise e à minimização da abstenção, e não optando pelo mais cómodo ou politicamente correcto: a salvaguarda da sua posição política fazendo a vontade aos interesses partidários.

É claro que o PSD também defendia o seu interesse (também aprovou a tal lei escandalosa do financiamento dos partidos) ao defender a simultaneidade dos dois actos eleitorais, mas essa posição defendia ou coincidia melhor com o interesse nacional.

Duas eleições tão próximas vão-se misturar na mesma. O debate vai confundir-se na mesma. A qualidade da democracia depende mais da postura dos partidos do que mais dinheiro e espaço para a campanha.

Os senhores dos partidos acabam por nos dizer que os sacrifícios são sempre para os cidadãos, enquanto os partidos gastam à grande e à francesa. Invocam a defesa da qualidade da democracia para justificar o esbanjamento em campanhas eleitorais quando as famílias portuguesas passam por dificuldades. Depois dizem não compreender porquê a abstenção ou os votos em branco aumentam.

1 comentário:

  1. Concordo em parte com o escrito, mas discordo com o dito em relação ao PSD. A posição do mesmo deve-se ao facto de ser o partido que tem mais implantação autárquica. Aliado ao facto de ser claro que para uma fatia do eleitorado, é muito difícil separar as duas eleições, creio que fica óbvio o porquê desta posição.

    O PSD tem por norma maior implantação a norte do Tejo, onde curiosamente existem mais concelhos.

    Obviamente poderá contrapor com o facto que uma figura como Sócrates, alguém que tem suscitado um anormal sentimento maniqueísta [de total aceitação/total rejeição] por parte do eleitorado, poderia inverter a lógica que indiquei, mas mesmo assim creio que o facto da esmagadora maioria dos cidadãos orientar o seu sentido de voto tendo em base questões prementes e presentes no seu dia-a-dia [votam numa lógica mais imediatista e nunca com pensamento a médio-longo prazo], faria com que as temáticas ficassem muito contaminadas pelas questões de foro local, deprezando o debate e o necessário enfoque nacional que é necessário para umas legislativas.

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