Emir Baigazin |
Procurou «filmar a violência sem cultivar a violência», referiu em entrevista à revista Actual (Expresso), de 8 de Março de 2014. No sentido de o espectador se «sentir livre quando o filme acaba».
Depois de dizer «não me quero subjugar a um tema» e no «cinema odeio os temas», diz o essencial: «O que me interessa são os conflitos internos do ser humano para lá de qualquer espaço, geografia ou situação: a sua natureza de predador, a sua capacidade de amar. Ou de matar."
Aprecio este ângulo de abordagem da Arte, no que tem de universal, de humano, de real e, inclusive, de estudo sobre a natureza humana, incluindo os mencionados conflitos ou inquietações internas.
A violência, no referido filme, é sugerida, já que o cineasta defende que «expressar a violência ou contemplar a violência no cinema é um perigo tremendo. Um centímetro a mais, um exagero a mais, é o grotesco que nos bate à porta. Quando o grotesco entra, tudo está perdido. O filme está condenado. Não há salvação que lhe valha.»
Refere que o cinema «se expressa para além da moral e da política», o que torna a Arte universal e intemporal. «O bem e o mal são como o dia e a noite, estão sempre aqui, para todos nós. Resta-nos tentar evoluir perante aquele facto.» É esta a esperança: evolução da humanidade.
Lições de harmonia não é um filme sobre a escola ou a adolescência, embora se passe na escola e o protagonista seja um adolescente. «Quis filmar o sistema escolar como o reflexo de um modelo que prevalece na sociedade. Um sistema de violência que faz parte da natureza humana. O que me interessa não é a guerra que estala entre aqueles dois rapazes mas sim a guerra interior do protagonista.» Afirma ainda que, na «escola, desde cedo, o que nos ensinam? A ser predadores.»
Sobre a adolescência diz que é um «período da vida obsessivo e, por isso, violento. Acho que nesta idade de formação da personalidade impomo-nos obstáculos e metas, nem sempre os melhores, e, dizem os psicólogos, isto leva-nos frequentemente a um estado de insatisfação que pode gerar depressão. Insisti muito nisto, filmando a vida na escola, a necessidade de ter boas notas, de ser o primeiro.» Ser o primeiro é muito diferente de cada qual dar o seu melhor, independentemente se esse melhor dar significa ou não ser o melhor. É preciso realismo, para não gerar obsessões e insatisfações.
E sublinha que não há ironia na palavra «harmonia» do título. Bem pelo contrário, o título é para «ser levado à letra», embora se trate, como escreveu o crítico Francisco Ferreira, de uma história de violência implacável sob o signo do darwinismo social (selecção natural e permanente luta pela sobrevivência).
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