«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

terça-feira, setembro 02, 2014

«Até ao osso»: Mão Morta na Madeira 30 anos depois

MÃO MORTA na Madeira (Estalagem Ponta do Sol) em 27 de Agosto de 2014 (álbum fotográfico aqui: inclui imagem com alinhamento do concerto - o 19.º tema, do segundo encore, foi "Véus Caídos")

Foi o terceiro concerto de Mão Morta a que assisti. Tive dúvidas como seria uma banda de rock com seis elementos a tocar num espaço pequeno, no exterior de um hotel, mas foi fenomenal. Foi «até ao osso».

Mais intimista, muito à queima-roupa, emotivo e, talvez por tudo isso, de uma intensidade particular. Houve entrega da banda e o público, ávido, correspondeu. Foi uma bela comunhão. O Adolfo, sempre endiabrado, tornou brutal a comunicação. As palavras são a doer e são encarnadas pelo bardo (sem alaúde...). Só os grandes artistas conferem tal densidade, profundidade e emoção.

No final, a banda estava satisfeita com a reacção entusiasta do público, em que havia um bom punhado de fãs de há muito. Depois de ter ido refrescar-se e mudar a camisa, o carismático vocalista ficou por ali a dar autógrafos e a tirar fotografias com o público, bem disposto. Os outros elementos também ficaram pelo palco a desmontar o aparato instrumental e depois também interagiram com os fãs.

Fiquei tão inebriado que, como fui para a cama logo que cheguei a casa, acordei "febril" durante a noite, com pensamento inquieto, a latejar. Deveria ter antes relaxado um pouco até o sangue desacelerar nas veias... O concerto deixou-me empolgado. Os sons e as palavras acertaram-me, como pregos, na alma, tanto dos temas antigos como dos novos, que compõem o Pelo meu relógio são horas de matar, um título retirado de um poema de António José Forte, "Dente por dente". Muito catártico.

Se tivesse de destacar três temas do concerto? Numa escolha subjectiva, sem desmerecer nenhum outro, apontaria para "Oub'lá" (1988), "Cão da Morte" (2001) e "Hipótese de Suicídio" (2014).

Os bonecos foram feitos sem flash, daí os efeitos especiais quando o disparo apanhou movimento, mas o intuito foi ficar com um souvenir da histórica passagem dos Mão Morta pela Madeira, a primeira vez, quando esta banda de culto comemora 30 anos de carreira. A imagem em que o Adolfo está com as mãos no pescoço é durante o "Cão da Morte", um tema que muito aprecio, bem como todo esse álbum, o Primavera de Destroços: «Sinto o cão da morte a bafejar no meu pescoço»...

Mão Morta é das poucas bandas de que tenho toda a discografia. Como o valor da entrada não pagou o magnânimo concerto, vou comprar merchandise, ou então repetir algum álbum no formato vinil, como forma de agradecimento extra.

É incrível não ter havido antes um promotor na Madeira que viabilizasse a actuação dos Mão Morta, nos 30 anos de existência que conta a banda. A mensagem dos autores de Oub'lá dificilmente se coaduna com espectáculos patrocinados por certas entidades públicas culturalmente mais conservadoras... E não é assim que tem de ser? Uma banda rock é livre por natureza. Jean-Paul Sartre afirmou: «man is freedom», «we are condemned to be free». O rock cumpre esse desígnio existencial. Rock is freedom. Liberta-nos tanto do mundo como de nós mesmos (catarse de emoções negativas).

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Nota: folha com alinhamento do concerto usada pelo Adolfo Luxúria Canibal está assinada pelo próprio. Em breve o A4 estará emoldurado, com a fita cola e tudo.
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Mais fotografias do concerto:
Life in Stills
Joana Marote #1
Alexandre Pinto #2
Olho de Fogo

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