«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

segunda-feira, setembro 01, 2014

Travessia no deserto após 36 anos de drenagem

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Um domínio avassalador de um partido político e de uma liderança carismática e musculada (Virgílio Pereira disse que «persegue qualquer tipo de sombra que lhe possa surgir, mesmo que seja a do passarinho no galho da árvore à beira dele» - Revista Diário, 21.01.2006). Ocorreu desde 1978 e secou muito à volta do líder. Este dominou tal momento histórico, para azar de muitos potenciais líderes da sua geração. Por isso, haverá uma travessia no deserto após 36 nos de drenagem das oposições. Isto apesar do tónico saudável das «verdejantes» mudanças.

O poder vai, como se costuma dizer, «cair na rua», com as devidas consequências. Ninguém o conseguirá evitar. É uma transição que tem de ocorrer, mas que se espera o mais curta e dolorosa possível, para a vida dos madeirenses. Até ao momento em que se renovem os quadros que, além da competência técnica, tenham acima de tudo Visão de futuro, sentido de Estado e de Serviço Público. Que pensem mais em elevar as condições de vida dos seus concidadãos do que na satisfação do interesse próprio.

Isto a propósito de declarações de Carlos César, no Diário de 1 de Setembro de 2014, no sentido de que a oposição, neste caso referia-se ao maior partido da oposição, tem de «se habilitar e qualificar para o efeito. O povo da Madeira votará numa alternativa na qual confie.» Isto é, as pessoas não vão votar em qualquer projecto político só em nome da alternância, mas apenas se houver a tal alternativa que mereça confiança.

O referido monopólio governativo e de liderança mais o ambiente insular, que é pouco competitivo (as oportunidades são escassas, os estímulos são limitados, o espaço para as pessoas crescerem e progredirem é reduzido), afastaram e/ou comprometeram a formação de mais quadros. Se, na Madeira, já existe pouca escolha, a cristalização dos mesmos nos cargos diminuem essa escolha/surgimento de novos quadros.

Se até o actual presidente do Governo Regional se queixa da falta de quadros, daí ter mantido boa parte dos mesmos deputados e secretários regionais durante décadas, imagine-se os partidos que não detiveram qualquer poder de governação para atrair, criar e desenvolver mais quadros, caminhando de desgaste em desgaste, desde 1978. Mas, os pecados apontados à governação PSD foram mimetizados e replicados em outras esferas da sociedade.

No Diário de 30 de Outubro de 2008, lia-se que Marco Gomes, director da Escola da APEL, escola privada madeirense, que durante cinco anos foi director pedagógico do Colégio Manuel Bernardes em Lisboa, afirmava o seguinte: «Não tenho dúvidas de que os alunos madeirenses são diferentes dos de Lisboa», onde a «competição, o esforço e o tempo dedicado aos estudos era muito maior». Parece que a escola da ditadura, antes da Revolução de 25 de Abril de 1974, afinal conseguia formar bons quadros, com competência e princípios, embora sempre associados a elites sociais - era como funcionava nesses tempos. Onde andam as elites actuais, formadas no Portugal democrático?

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