A frontalidade e liberdade emancipatórias de Jennifer Lawrence ou Scarlett Johansson são poderosas e, por isso, assustam de morte a hipocrisia puritana e o machismo. Temos mulheres! |
Talvez o hacker que sacou as fotografias íntimas de celebridades, além do crime de devassa do mundo privado e da dor causada, tenha dado um contributo para a emancipação das mulheres e mudança de mentalidades (anti-puritanismos e anti-machismos).
Como argumenta o articulista Henrique Raposo na peça intitulada Jennifer Lawrence e Marilyn Monroe: as diferenças (Expresso, 5 de Setembro de 2014), a actriz «Jennifer Lawrence poderá ser um símbolo de emancipação da mulher e não um mero símbolo sexual [como Marilyn Monroe].»
E explica por que razão: «Ao enfrentar de frente o problema, ao assumir a dor causada e ao colocar uma acção legal contra o hacker e diversos sites, Jennifer Lawrence está a dizer uma coisa: não, não aceito que a minha sexualidade [intimidade no geral] seja ditada por critérios puritanos ou machistas, sou eu que decido a minha vida.»
Sou eu que decido a minha vida. Ponto final. Uma atitude do caraças. E foi tudo à queima-roupa: a actriz teve de reagir logo e fê-lo com um inconformismo libertador. Por isso, sou humanamente solidário com esta mulher e admiro-a hoje ainda mais pela sua garra e por ter optado por dar luta e ultrapassar o problema por cima, de cabeça erguida. Só uma pessoa senhora de si e livre o consegue. Temos mulher.
Recordo, há algum tempo, que outra grande actriz, Scarlett Johansson (ok, também muito bonita e sexy, sou sensível à beleza), conseguiu ver condenado a dez anos de cadeia alguém que devassou a sua vida privada ao colocar imagens suas na net. Em 2003, numa entrevista do The Observer, declarou-se orgulhosa da sua energia sexual: «it's great to be able to pronounce your sexuality. Not... over-annunciate it. But use it, touch on it. I'm a very sexual person, I have a sexual energy about me that I'm very proud of. Like my femininity, and I think it's nice, to have guys and girls think you're sexy. As long as it's not tacky [in bad taste].»
O erotismo e a sexualidade não têm de ser, excepto à luz de certa mentalidade, algo de menos nobre, elevado ou belo. Porque nos aproxima mais do nosso instinto primitivo? Isso não tem de ser mau desde que não se banalize/vulgarize, não transforme a pessoa num mero objecto sexual, nem prejudique ou atente contra a dignidade de ninguém.
É esta emancipação feminina de Scarlett ou Jennifer, que é uma emancipação humana no sentido geral, a que a segunda deu agora um forte contributo, que constitui um valor. Há males que trazem bens mais importantes e elevados, que suplantam danos pessoais causados por actos criminosos.
E que se lixem os puritanos-falsos-moralistas-machistas que, em vez de condenar o hacker, optam por atacar a vítima, como se não tivesse direito à privacidade e a fotografar o seu corpo na intimidade. Como se a actriz estivesse a ser merecidamente castigada por ter cometido um pecado. São os mesmos que apedrejam as mulheres até à morte em certas sociedades...
O articulista diz ainda: «E esta atitude [de Jennifer Lawrence] não surge por acaso. Lawrence é o símbolo de uma Hollywood crescentemente dominada por jovens mulheres, que hoje em dia são protagonistas de grandes blockbusters. Coisa impensável no tempo de Monroe. Aliás, coisa impensável há dez anos.» E será isto que preocupa os machistas.
Nota:
Mesmo quem tenha a tentação de fazer download de alguma dessas fotografias, é importante ter em mente que é algo privado não destinado à partilha pública, o que deve ser respeitado: não procurar, não guardar, não divulgar.
Sem comentários:
Enviar um comentário