Rodrigo Leão em entrevista à Atual, revista do semanário Expresso, de 4 de Outubro de 2014 |
Compreendo muito bem Rodrigo Leão, que teve uma mãe santa, que o mandou ler livros, ouvir música e ver cinema, e uma vida (meio familiar e o sucesso alcançado nos Madredeus) que lhe facilitou a independência (alheamento) face à política*.
O Ser Humano está acima da política. Os criadores podem criar sem a política e apesar dela. «O sol doira» e a pessoa vive sem política e apesar dela. Certas condições, como a vontade pessoal, ajudam que isso seja possível.
E que se lixem os slogans e as frases feitas que pressionam para a participação política ou cívica, para os colectivismos e comunitarismos autoritários, como se, para se ser homem ou mulher com dimensão social e cidadã, e se realizar como ser humano e ser social, a participação política ou cívico-política, no espaço público, fosse um imperativo ou um dictato.
Cada qual deve viver como se sente realizado (Livre), mesmo que «alheado» e «distante» (Independente) do que se passa à volta. E deve defender essa condição de Ser Livre. Ninguém deve ser obrigado a habitar ou a participar em espaços politizados.
A Vida é breve (tempus fugit) e é preciso ler os livros, ouvir os discos e ver os filmes que são importantes ler, ouvir e ver. É preciso comunicar com os amigos. E tudo isto com tranquilidade e o menor ruído externo. É isso que nos salva de uma vida estupidificante. Como alguém disse, a Cultura é a «única eternidade terrena».
No caso de Rodrigo Leão, a criação musical é o seu centro. Sem perder Tempo (Vida) com o acessório.
O alheamento pode ser uma bênção. O alheamento da política só não interessa à própria política, que procura arrebanhar num sentido ou noutro, braço de muitos interesses individualistas pouco ao (real) serviço do bem comum.
Não vejo televisão há mais de um ano. Ganhei qualidade de vida, resultado que me entusiasma para outros passos libertadores. Há coisas de que é bom sentir-se «sempre distante», como observa Rodrigo Leão.
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*Contudo, o distanciamento político não é total por parte do músico, já que as declarações aqui patentes foram feitas a propósito do espectáculo comemorativo de um acontecimento político, os 40 anos do 25 de Abril, agora editado em disco.
Nota: de Rodrigo Leão possuo apenas a banda sonora "Portugal, um Retrato Social", talvez pela sua música não ter uma identidade mais vincada, que se deixa ficar muito pelo gosto mainstream.
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