António Botto, num quadro cuja autoria se atribui a João Abel Manta (à esquerda) e num retrato de Almada Negreiros (à direita) |
Em 9 de Novembro de 1942, António Botto foi demitido do seu emprego na função pública (escriturário de primeira-classe do Arquivo Geral de Identificação) nomeadamente por criar: «fazer versos e recitá-los durante as horas regulamentares do funcionamento da repartição, prejudicando assim não só o rendimento dos serviços mas a sua própria disciplina interna.»
O mais importante na vida
É ser-se criador – criar beleza.
Para isso,
É necessário pressenti-la
Aonde os nossos olhos não a virem.
Eu creio que sonhar o impossível
É como que ouvir a voz de alguma coisa
Que pede existência e que nos chama de longe.
Sim, o mais importante na vida
É ser-se criador.
E para o impossível
Só devemos caminhar de olhos fechados
Como a fé e como o amor.
António Botto
António Botto no Martinho d'Arcada, acompanhado dos escritores Fernando Pessoa, Raul Leal e Augusto Ferreira Gomes |
The most important thing in life
Is to create – to create beauty.
To do that
We must foresee it
Where our eyes cannot really see it.
I think that dreaming the impossible
Is like hearing the faint voice
Of something that wants to live
And calls to us from afar.
Yes, the most important thing in life
Is to create.
And we must move
Towards the impossible
With shut eyes, like faith or love.
(tradução: Fernando Pessoa)
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