Clouds in Calheta (2016) |
"Que Coisa São As Nuvens?". Este é o título da crónica semanal de José Tolentino Mendonça no Expresso, que foi antes o título de um filme de Pier Paolo Pasolini, que é uma «iniciação à arte do espanto», diz o cronista madeirense.
Quanto ao filme, o poeta ilhéu recorda «três diálogos que correspondem a outros tantos eixos de sentido.»
O primeiro, quando Otelo chega e pergunta aos presentes: «Por que será que estou tão contente?». A resposta que lhe dão é esta: «porque nasceste!».
O segundo, também um diálogo em que Otelo participa, mas desta vez é Iago (que no filme tem o rosto de Totò) que lhe explica: «É isso, meu filho, somos um sonho dentro de um sonho».
O terceiro e último é quando Caronte (interpretado por Modugno) vai despejar as marionetas estragadas de Otelo e Iago a uma lixeira a céu aberto. Otelo e Iago pensam que é o fim, mas não. Pouco depois, dão por si com o imenso e inexplicável céu de nuvens diante dos olhos.
OTELO: Hiiii! Quem são aquelas?
IAGO: Aquelas são... são as nuvens.
OTELO: E que coisa são as nuvens?
IAGO: Boo!
OTELO: Como são belas... como são belas... como são belas...
IAGO: Ah, arrepiante maravilhosa beleza do criado.
A «capacidade de anotar com fulminante exactidão o criado» é uma das razões de José Tolentino Mendonça para gostar de Pasolini.
(in "Que coisa são as nuvens", Expresso - Crónicas, Abril 2015)
(a fotografia impressionista deste post foi captada
no céu da Calheta sem qualquer filtro ou edição posterior: tudo feito
pela Natureza)
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