Momento da apresentação da colecção Outono-Inverno, evento promovido pela Assembleia Legislativa da Madeira, uma forma airosa de espantar a polémica sobre as restrições de vestuário no parlamento regional. Guilherme Silva, Arons de Carvalho e Luís Fazenda precipitaram-se ao terem feito declarações à Lusa sem conhecimento prévio daquela notícia exclusiva do Olho de Fogo. (Nota: o fato trajado pela jornalista na imagem foi reprovado devido a proporcionar desnudamento acentuado dos braços, passível de contaminar o resto do corpo.)
A novela a propósito das vestimentas dos jornalistas na Assembleia Legislativa da Madeira, como se aqueles profissionais fossem assalariados ou subalternos da instituição parlamentar regional, uma forma de coacção moral, de sujeição, são daqueles exotismos democráticos que dão depois espaço para que se dê determinada imagem da Madeira.
O que é pena, porque a Madeira é muito mais que certas atitudes por parte dos seus políticos. A Madeira que interessa fica relegada para segundo plano na opinião pública nacional. Quando se pisa território nacional, as pessoas que encontramos, assim que conhecem a nossa proveniência, da qual temos orgulho, fazem sempre a mesma pergunta, precisamente sobre algumas realidades exóticas das quais não podemos sentir orgulho.
A agência Lusa, como dá conta hoje o Diário, foi ouvir vários actores da Assembleia da Repúplica sobre as restrições de vestuário na Assembleia Legislativa da Madeira. Enquanto há quem fique sem palavras, há quem aproveite para expor o ridículo e atacar alguns actores políticos regionais. Mas há que ter em conta que nem Guilherme Silva, nem Arons de Carvalho ou Luís Fazenda, no momento das suas declarações, sabiam da notícia dada pelo Olho de Fogo: Assembleia Legislativa da Madeira apresentou colecção Outono-Inverno.
"É uma questão interna sobre a qual não quero pronunciar-me. Não reflecti aprofundadamente sobre o assunto para poder transmitir uma opinião válida."
(Guilherme Silva, vice-presidente da Assembleia da República)
"É uma atitude insólita, abusiva e ridícula". "O direito de acesso à informação por parte dos jornalistas, que está previsto pela Constituição da República, tem maior força legal do que qualquer regulamento que se faça sobre vestimentas". "Creio que estamos perante uma limitação do direito de acesso dos jornalistas às fontes de informação em locais públicos. Este princípio tem consagração constitucional". "Não [se] encontra qualquer precedente em Portugal". "Ainda por cima isto acontece na Madeira, região que tem um clima ameno e que as pessoas se vestem com grande informalidade". "Não tendo sido ferido qualquer princípio de moralidade (dentro da Assembleia), não se justifica qualquer regra nesse sentido. Por haver jornalistas que se vestem com 't-shirt', calças de ganga ou sapatilhas, não pode ser colocado em causa um princípio constitucional".
(Arons de Carvalho, deputado do PS e ex-secretário de Estado da Comunicação Social)
"É um atentado aos direitos dos cidadãos". "Esse tipo de medidas é um sinal do estertor e da decadência do jardinismo na Madeira. Às tantas, por antecipação, estamos já perante os vapores da festa do PSD no Chão da Lagoa". "O ridículo mata". "Desde que não haja qualquer atentado ao pudor, não pode ser proibida a entrada no parlamento, que é um espaço público. O parlamento da Madeira não é propriedade privada, não é nenhum restaurante que exige 'black-tie' aos seus clientes".
(Luís Fazenda, líder parlamentar do Bloco de Esquerda)
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