«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

quinta-feira, novembro 02, 2006

Violência bombista? Só se for o polvo madeirense... não o povo

Não é novidade esta ameaça de revolta. Já em Madeirenses revoltosos, onde? e Madeirenses revoltosos, onde? 2 já se tinha dado conta de palavras do deputado Coito Pita no sentido de suscitar alguma revolta a propósito das medidas do Governo da República. Sem esquecer a propensão para as «bofetadas» em «Por alguma razão, tem havido cenas mais do que lamentáveis no Parlamento regional». No Revoltas de 1931 já se tinha abordado e desmistificado o potencial revolucionário dos madeirenses.

Na Grande Entrevista de ontem, na RTP1, o presidente do Governo Regional disse nunca ter ouvido tanto sentimento contra a unidade nacional como nestas últimas semanas. Isto a propósito da referência da entrevistadora às palavras do deputado Coito Pita, que acusou o primeiro-ministro e o partido que o suporta de estarem «a ressuscitar a FLAMA», Frente de Libertação do Arquipélago da Madeira, um movimento independentista que recorreu a atentados bombistas, no período pós 25 de Abril. Para o presidente do Governo o parlamentar Coito Pita apenas «constatou» uma realidade. Explicou que tal se devia às «asneiras do Governo» da República, que estariam a «causar dano» à unidade nacional.

No Diário de hoje, Ricardo Freitas, deputado na Assembleia da República, considera que «a FLAMA está há várias décadas no poder da Região Autónoma da Madeira» e que o «risco de violência não democrática já existe. Há um ambiente pouco democrático e uma atitude prepotente da maioria que não respeita qualquer minoria».
Por seu lado, João Carlos Gouveia, parlamentar da Assembleia da Madeira, refere também hoje no Diário que «a FLAMA não está fora do parlamento nem do Governo Regional». «A FLAMA é hoje o poder político regional. A FLAMA é uma minoria dentro do PSD mas que domina o partido». Acrescenta que «a Pátria dos homens que ameaçam com a FLAMA não é a Madeira, a Pátria deles é a sua "barriga", são os recursos financeiros».

Primeiro, é preciso saber se o sentimento de separatismo não estará restringido a algumas conversas no Apolo, bem como se a propensão (currículo) para a violência verbal e terrorista (não para a revolução) não estará bem circunscrita.

Em segundo lugar, enquanto elemento do povo, nunca ouvi ninguém expressar tal sentimento nas últimas semanas. Deve ser um núcleo tão restrito que impede que os elementos do povo, em revolta latente, assistam à expressão desse sentimento.

Em terceiro lugar, é preciso ter pudor e realismo. Já não chegam os meios legais e institucionais que a Madeira tem ao dispor para fazer valer a razão que pensa ter, de forma racional e democrática, relativamente à nova Lei de Finanças Regionais e à sanção pela dívida "escondida"? É preciso recorrer à ameaça separatista? Portugal é um Estado de Direito quando os tribunais nos dão razão e deixa de ser um Estado de Direito quando os tribunais não dão razão? Não será desrepeitando o jogo democrático que as autonomias regionais ganham credibilidade ou que a Madeira veja reconhecida a razão que possa ter.

Em quarto lugar, alguém pensa que os madeirenses, passivos como são, serão autores de alguma revolta? Se há um grupo de pessoas para quem quaisquer fins justificam os meios, que possam recorrer de novo à violência terrorista das bombas, é excessivo conotar isso com o povo madeirense. A não ser que em vez de povo se queira dizer polvo...

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