«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

domingo, maio 06, 2007

Venha o novo ciclo

Foi feito o referendo à diminuição de dinheiro do Orçamento de Estado para a Madeira, por via da nova Lei de Finanças das Regiões Autónomas, tendo os madeirenses sido claros nesse protesto quanto a lhes mexer no bolso. O apoio e confiança à liderança de Alberto João Jardim, com o maior número de votos de sempre, são cristalinos, que tem agora um mandato para resolver o problema da falta de dinheiro (crise).

O PSD-M tem, assim, uma enorme (e reforçada) responsabilidade para dar resposta à crise que assola a Região, na projecção de um novo ciclo ou modelo de desenvolvimento. Capaz de libertar-nos do ciclo baseado na injecção de dinheiro público - nacional e comunitário - ou no endividamento, para a construção de infraestruturas públicas em grande escala, importante em certo momento.

É preciso, agora, mudar de vida. Os madeirenses apostaram nos mesmos protagonistas de há 29 anos a esta parte para essa mudança (ou será que é para uma não-mudança, como se fosse possível manter tudo como está/estava, leia-se tempos de fartura).

A LFRA foi o tema central da campanha, deu jeito para afunilar o debate político (evitando-se referendar os cortes comunitários, que são mais significativos do que a diminuição das remessas nacionais), mas não pode ser argumento por muito tempo, embora aquela lei belisque certos ganhos autonómicos inscritos no Estatuto Político-Administrativo da RAM e não tenha merecido votação consensual alargada, pelo menos entre os dois maiores partidos nacionais. Mesmo assim, mereceu a assinatura de Cavaco Silva.

A realidade pura e dura está aí e é preciso respostas. As tais respostas que ficaram fora desta disputa eleitoral e do debate político. Veremos que capacidade de renovação e resposta revelará o PSD-M para abraçar o dito novo ciclo de desenvolvimento, capaz de gerar mais receitas que sustentem o nível de vida (despesa) atingido na Madeira. Solidariedade nacional e comunitária é uma parte, justa e merecida, mas não chega. O desafio do futuro é tremendo. Também para os partidos da oposição.

Ganhar esse desafio não passará por «eliminar», queremos acreditar, quem pensa diferente nem por «perseguir quem não alinhe pelo pensamento único», como afirmou Alberto João Jardim no discurso de vitória, hoje. Pensamos que o que vale para o Continente vale para cá.

Esse seria um bom sinal de mudança de rumo, de ciclo político, para nem falar na revolução cultural e de mentalidades que é preciso acontecer na sociedade madeirense, para outra abertura e autonomia cidadãs, vivência e crescimento democráticos. Há bloqueios que têm de ser dissipados para obter as respostas que o novo ciclo de desenvolvimento exige.

Nota:
A manutenção da maioria absoluta do PSD não foi surpresa, apenas os 64%; o PS ficou reduzido a um grupo parlamentar de quase dois táxis, numa perda mais expressiva do que se calcularia; o CDS-PP manteve; a CDU manteve também dois deputados mas com um sabor amargo quando acreditava no terceiro deputado, depois de tanto lutar e fazer pelas pessoas no dia-a-dia; o BE passou a um único deputado, uma perda acentuada; a surpresa da noite, numas eleições referendárias (peculiares), foi para o deputado eleito pelo MPT e também pelo PND.

photo copyright: Cati Kaoe

3 comentários:

  1. Nélio,

    Estas eleições foram uma confusão na sua forma. Transformá-las num referendo à LFR foi, concordo, afunilar a discussão, mas não é uma questão séria. Não se pergunta, numa lei que tem impacto nacional na sua concepção, aos que recebem a mesada se concordam com a redução da mesada. É ridículo.

    Também concordo que, por exemplo, os fundos europeus foram esquecidos nesta campanha mas pior que isso é não discutir a responsabilidade própria do Governo Regional, independentemente dos fundos nacionais e europeus, ao ultrapassar constantemente os limites de endividamento. A crise financeira é real e preocupante numa região que depende tanto do seu sector público.

    Cumprimentos,

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  2. Ricardo,

    Penso que o que o Nélio escreveu não difere do que acabou de expressar.
    Nélio, aliás é um excelente artigo. Está de parabéns!

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  3. Este "Jogo da Pirâmide" mais tarde ou mais cedo vai desmoronar-se...não se trata somente de uma questão política mas financeira!

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