«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

domingo, fevereiro 10, 2008

Professores de luto e em luta 64: agressão física, a cereja em cima do bolo

Num momento de ataque cerrado à classe docente, que, simultaneamente, se maldiz e se exige que resolva tudo, substituindo quase a família..., a agressão física é a cereja em cima do bolo, o espectáculo para a sociedade assistir. E assistir indiferente.

Professora agredida, eis o título da notícia de hoje do Diário, que dá conta que a violência sobre os docentes não é só coisa de Portugal continental. Agressão por uma aluna em plena sala de aula.

A docente decidiu, e bem, não deixar que tal violência fosse camuflada, como tantas situações dentro das escolas, como se fosse um local onírico, de impunidade, em que tudo se desculpa e relativiza. Apresentou queixa na PSP. E muito bem. Deveria ter-se dirigido ao Ministério Público.

Recorde-se o que o procurador-geral da República já disse sobre este problema: Elementos sobre o estado da Escola Pública 12: violência camuflada II. «Vou-me preocupar com cada caso de um miúdo que dê um pontapé num professor ou lhe risque o carro. Não quero nem que haja um sentimento de impunidade nem que esse miúdo se torne um ídolo para os colegas. Quanto à escola, ao nível penal, deve existir tolerância zero. Mesmo que seja um miúdo de 13 anos, há medidas de admoestação a adoptar.»

Outro problema decorrente da espectacularidade da agressão física é a relativização e até esquecimento da gravidade da agressão moral e psicológica, a agressão silenciosa, de que são vítimas os professores, com mais frequência do que se pensa.

Infelizmente, muitos docentes deixam a situação entrar numa perniciosa normalidade, porque é difícil provar e receiam ser acusados de incompetência ou de fraqueza. Esse tipo de agressão provoca enorme desgaste (emocional) da classe docente. Os psicólogos e psiquiatras sabem o número de professores-clientes que têm...

Lembro-me de um aluno de uma escola do Funchal fanfarronar-se com o facto da turma ter colocado mais de uma professora de baixa psiquiátrica. E deixa-se esta violência alastrar nas escolas. Deve-se pensar que contribui para o sucesso escolar...

A violência moral e psicológica é muito comum nas escolas (resultado também das «pulsões narcisistas e exibicionistas, ausência de perspectiva social positiva salvo a que prolonga a afirmação egoísta de si» por parte de muitos jovens, como refere Eduardo Lourenço), ainda mais minimizada e camuflada que a violência física e contra o património, porque não deixa marcas (provas) exteriores e visíveis, na sequência da agressão.

Mais leitura:
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 13: violência camuflada III
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 9: nem ditadura por disciplina nem a ditadura da indisciplina
-Elementos sobre o estado da Escola Pública 10: educação infantil em Portugal (Eduardo Lourenço)

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