Tudo está bem para a governação regional e turistas. O madeirense que aguente mais esta canga.
Ora esta, afinal, como noticia hoje o Diário, não há problema nenhum. Depois de tanto labor junto das entidades da República para, supostamente, corrigir as fragilidades da liberalização aérea da rota entre Portugal continental e a Madeira, conclui o Governo Regional que está tudo bem.
«GR recusa voltar atrás pois viagens estão baratas», diz o título do jornal citado, num claro seguimento do Governo da República, pela voz do secretário de Estado das Obras Públicas, que não vê desvantagens no processo de liberalização. «Liberalização fica igual, Paulo Campos diz que viagens entre Madeira e Continente estão mais baratas», como deu conta o Diário de 2 de Julho.
A governação regional satisfaz-se com o preço médio das viagens. Pouco importam os estudantes ou outros residentes madeirenses que pagam mais, nomeadamente por viagens com marcação próxima do dia do voo.
Esquece-se a senhora secretária regional que, ao contrário dos turistas, os madeirenses não saem da ilha apenas para passar férias. Saem da ilha por razões que os impossibilitam de marcar, muitas vezes, as viagens com a antecedência que permita preços mais baixos.
«Quem também, por agora, está satisfeito com a liberalização é o maior hoteleiro português», escreve o Diário de hoje, confirmando-se o que se disse no parágrafo anterior: «"Para o Turismo, a experiência não tem sido negativa, porque o turista é alguém que tem disponibilidade para escolher melhor os horários e pode escolher as melhores tarifas", descreveu o administrador José Theotónio».
Ora bolas, o madeirense não é necessariamente um turista quando vai a Portugal continental. Causa-lhe transtornos e mais gastos viajar em determinados horários. Colocou-se o interesse dos turistas à frente dos madeirenses.
Que raio de governação autonómica é esta que neglegencia o interesse dos insulares? Cada vez mais estou convencido que se pretende acentuar a condenação dos madeirenses a «nascerem e a morrerem na prisão oceânica», para citar palavras de Emanuel Rodrigues.
Para o preço médio ser de 124 euros em Maio, alguém pagou viagens muito acima deste valor. E são esses que é preciso acautelar. Se eu tenho de pagar uma viagem de 350 euros não me beneficia ou traz consolo saber que o vizinho pagou muito menos. O que importa é que há madeirenses prejudicados e discriminados. As pessoas não são uma média. Não há madeirenses mais madeirenses do que os outros.
«Conceição Estudante admite que as tarifas sejam hoje mais elevadas para quem reserva as viagens em cima da hora, mas que "por cada uma tarifa mais elevada, há 10, 12 ou 20 tarifas mais baixas".»
Ora, muito obrigado. Uns madeirenses viajam mais barato porque há outros a pagar mais caro. Muito justo, de facto. É lavar as maõs do problema e mandar lixar-se quem tem o azar de pagar mais.
Dá-me razão o deputado do PSD à Assembleia da República, Hugo Velosa, que disse ao secretário de Estado das Obras Públicas que a «liberalização tem sido positiva para o turismo, mas tem tido efeitos negativos para os residentes e para os estudantes», como dá conta o Diário de 2 de Julho. Hugo Velosa que pagara, no fim-de-semana anterior, mais de 300 euros para viajar para a Madeira. Este deputado contraria as ideias da secretária regional, Conceição Estudante.
Na Comissão de Obras Públicas e Transportes, na AR, de há três dias, o socialista Miguel Coelho respondeu a Hugo Velosa algo que não se deve esquecer: a «"liberalização é uma bandeira do PSD, que se devia ter aconselhado com o socialista açoriano Carlos César, que a rejeitou.»
Como ainda deu conta o Diário, «pelo PCP, falou Bruno Dias, que se dirigiu ao PSD e ao PS. "Este é o esquema clássico da liberalização", afirmou. E prosseguiu: "Uma roda livre que funciona em benefício de alguns".»
Veremos se o mercado será solução exclusiva, sem serviço público, para uma região insular e pobre, sem mercado competitivo, perdida no meio do Atlântico. Quem acredita que vão chover companhias aérias para transportar madeirenses?
Volto a defender que uma viagem ao Continente, para o residente, não deveria custar mais do que 50 euros, já com o reembolso, claro. No presente, não deveria custar mais de 110 euros (50 custeados pelo passageiro+60 euros reembolsados pelo Estado, ao abrigo do princípio da continuidade territorial).
Recorde-se:
Liberalização aérea 1: só o tempo o dirá
Liberalização aérea 2: turismo colocado à frente dos interesses dos madeirenses
Liberalização aérea 3: autonomia, "revolução pacífica e liberalização «espúria»
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