O teleférico poderá até render muito dinheiro, mas as condições únicas da experiência que oferece hoje o Rabaçal serão comprometidas. Entre elas a paisagem, as espécies animais e da flora, o silêncio e o sossego.
www.olhares.aeiou.pt (Nuno Chambel 2008)
O desenvolvimento e o proveito económico dos nossos recursos naturais são legítimos. Há muitas formas de o fazer e o Governo Regional segue um determinado modelo ou estratégia. Compreendo-o mas será a mais sustentável? Sabe-se exactamente até onde se pode ir, para não começarmos a perder os turistas de qualidade e mais fiéis ao destino Madeira?
Se o Governo Regional quer optar pela banalização e massificação do destino turístico, procurando outro perfil de turista, como são prova a multiplicação de praias artificiais descaracterizadoras (não autênticas, não endémicas, não verdadeiras), então boa sorte para essa opção. Embora se saiba que quando o Governo não tem juízo o cidadão-contribuinte é que paga, literalmente.
Neste caso, serão comprometidas as condições únicas do Rabaçal, não importa os argumentos que se invoquem para minimizar a perda. Nem uma enorme rentabilidade relativiza a perda. Há coisas sem preço. Há valores que o dinheiro não compra.
Há quem venda a sua honra, tal como se quer vender a "honra" do Rabaçal, mas há valores que não se deve colocar à venda. A alma do Rabaçal está à venda por via da telefericação e de tudo o que arrastará atrás de si.
O mesmo aconteceu com estrada-promenade do Jardim do Mar. Jurava o Governo a pés juntos que não tinha impactos. Percebe-se agora bem os impactos negativos, a pouca utilização da infraestrutura e a sua não-rentabilidade. E outros exemplos, outras obras de fachada, podem ser lembrados, entre eles a Marina do Lugar de Baixo.
Há uma opção entre o que se ganha e o que se sacrifica e compromete. Uma opção política, mais do que legal ou técnica. Tem a ver com os valores que a governação defende. Tem a ver com uma dada mundividência, mentalidade, cultura. Sabemos bem qual é a mundividência da Madeira e dos madeirenses, em que se estruturaram os nossos governantes.
Sabemos que um espaço sem construção é encarado como desaproveitado e até inútil, como referiu Hélder Spínola no domingo. Sabemos que há quem encontre a felicidade em transformar uma aldeia rural numa urbe: «Já parece uma cidade», diz-se de contentamento negligente e ingénuo. Ouvi-o dizer no Jardim do Mar, a aldeia mais pequena da Madeira, aquando das grandes obras de betão. Ilustra a cultura.
O Rabaçal vai parecer, finalmente, uma cidade. Com centenas de pessoas para cá e para lá, lojas de souvenirs, esplanadas, muitos autocarros à beira do teleférico, bar-restaurantes panorâmicos, entre outras maravilhas.
(continua)
A propósito:
Rabaçal at risk in Madeira Island XXV : comunicação
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