«Não é só o lúdico [na cultura madeirense que explica os acontecimentos no parlamento]. É uma cultura cívica. O problema é de civismo, de cidadania, de cultura, de qualidade da cidadania.»
«Com toda a humildade democrática», Monteiro Diniz desejaria, ao nível técnico, que os deputados «estudassem melhor os dossiês. Vissem com rigor. Haveria necessidade de um trabalho no plano das comissões, no plano técnico, porque isso depois nota-se ao nível das intervenções que têm aquando do debate dos diplomas. É que muitas vezes é um debate que não tem um conteúdo suficientemente sólido em relação a questões técnicas.»
Outro plano é o «comportamental. Havia necessidade de se colocarem num plano de cidadania, comportarem-se como cidadãos [a pensar no bem comum] e não como homens [a pensar nas realizações individuais].
Os cidadãos são aqueles que são portadores de algum sentido superior da realização do bem público e da res publica. O homem comporta-se no plano da actividade primária, da família directa, do enquadramento de interesses pessoais, disciplinado por regras de orientação específica. Enquanto que o cidadão já tem de ter um sentido superior.
E no momento em que um deputado é eleito é um procurador dos povos. Ele é investido de uma qualidade superior e daí que tenha estes direitos especiais, de irresponsabilidade criminal, disciplinar, civil e que tenha um estatuto privilegiado ao geral da população, nomeadamente ao nível da Administração Pública.
Portanto, comportamento de harmonia com as altas funções que exercem - são representantes do povo da Madeira -, com ou sem críticas, são eles, quarenta e sete deputados, que representam a Madeira toda. É o órgão principal da Região Autónoma.
E, por outro lado, uma preparação técnica, um estudo, uma investigação, uma reflexão sobre as questões e um aconselhamento junto dos gabinetes, que se não têm devem criar com base nas tais subsidiações aos grupos parlamentares [o célebre jackpot], para poderem intervir criticamente quando entenderem nos diplomas do Governo e para eles próprios apresentarem projectos em nome desses partidos.
Na Assembleia Legislativa da Madeira, para o funcionamento ser harmónico, construtivo, [deveria] haver uma dialéctica entre a tese e a antítese, em ordem a atingir sínteses. Era necessário que isto funcionasse assim.
Agora, isto é pedir, porventura, algo de utópico. Estamos no reino da Utopia de Thomas More. E com isto termino.»
/rtp madeira 12.11.2008/
Nota: conto, a partir desta Lição do Representante da República, fazer algumas lucubrações, sem, no entanto, chegar aos pés da qualidade da reflexão do Juíz Conselheiro, recordando ainda outras lucubrações mais antigas deste blogue sobre a Madeira endémica e a mundividência madeirense.
Outras lições:
A lição de Monteiro Diniz
Regiões usam pouco a autonomia
Anormalidade comportamental e democrática continuará
Anormalidade comportamental e democrática continua(rá) 2
Lição de Monteiro Diniz (intro)
Lição de Monteiro Diniz (parte 1)
Lição de Monteiro Diniz (parte 2)
Transcrição total da entrevista (Lição) no Ultraperiferias : fica o leitor com a hipótese de comparação, embora aqui tenhamos optado por relevar o essencial
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