Para alguns, a culpa é da suposta fragilidade da vítima e não da brutalidade dos agressores
Os casos mediatizados do estudante de 12 anos que atirou ao rio e o do professor que «preferiu morrer a voltar ao 9º B», em consequência, no todo ou em parte, da maus tratos de alunos, têm colocado à mostra a complacência com que os responsáveis, desde as escolas ao Ministério da Educação, lidam com o problema da indisciplina e violência na escola pública.
Desde logo pela recusa em falar do caso. E quando falam é para negar a evidência (relativizar, aceitar, minimizar, é escolher o sinónimo) ou ajeitar os factos (desresponsabilização).
O professor que suicidou, bem como outros colegas, segundo o Público, alertaram a direcção da escola para os problemas da indisciplina e da violência, mas nada fizeram.
O facto de o professor em causa ter antecedentes de fragilidade emocional não o torna agressor nem justifica a violência. Bem pelo contrário. Ou será que a sala de aula é uma arena de combate em que as pessoas se portam como animais?
«Apenas lhe propuseram assistir a aulas de colegas para aprender a lidar com as provocações», disse a irmã, também docente, do referido professor. Que bela forma de sacudir a água do capote. A direcção da escola, em vez de fazer o que lhe compete e regular a indisciplina, deixa cada docente sozinho, entregue a si próprio e, ainda por cima, culpabiliza-os. O problema não está no agressor ou no indisciplinado, está no docente que supostamente não sabe lidar com as provocações...
Dá vergonha ser professor neste País... Vale mesmo a pena ser-se empenhado e competente... A qualidade que se pede ao professor é, afinal, saber lidar com as provocações. Tem de impôr respeito (dar-se ao respeito) e ser líder sem autoridade (condições para exercer liderança). É preciso não esquecer a grande erosão da autoridade dos professores nos últimos quatro anos de governo PS e "reinado" de Maria de Lurdes Rodrigues. Isto ninguém pode negar.
«O clima de indisciplina nas escolas está a tornar-se insustentável», escreveu Luís, que era como se chamava o professor em causa. «E ainda há quem culpe os professores, por falta de autoridade. Essas pessoas não fazem a mínima ideia do ambiente que se vive numa escola. Aconselho-as a verem o filme A Turma [Entre Les Murs]». Eu aconselho um outro: Dia da Saia.
Mas, mesmo que poucos optassem pelo suicídio nas circustâncias do Luís, a sua irmã questiona (Público 13.03.2010): «quantos professores não se econtram neste momento de atestado médico ou a leccionar no limite das suas forças, por situações semelhantes?»
E insiste: «Será que um professor tem que ser um super homem? Qualquer um, independentemente das suas características, não tem o direito de ser respeitado?»
Dito de outra forma, os estudantes não sabem que, à partida, até por lei, têm de ter uma atitude disciplinada e não violenta na sala de aula? Os pais não o sabem? As direcções das escolas não o sabem? A regulação da disciplina depende apenas do professor?
Como se pode tolerar como normal que um estudante, um dos alunos do professor Luís, diga com o maior à vontade (Público 12.03.2010) que «portava-me sempre mal, mas não era por ser ele. Somos assim e todas as aulas, é da idade»...
O director regional de Educação de Lisboa, José Joaquim Leitão, que já desculpabilizara os alunos que maltrataram o professor, veio dizer, segundo o Público (13.03.2010) que «Luís apresentaria "fragilidade psicológica desde há muito tempo"» (mais desculpabilização e aceitação da violência escolar) e que o objectivo, em vez de tomar medidas para acabar com a indisciplina e a violência na escola, é perceber se o suicídio foi uma consequência do bullying por parte dos alunos (mais uma tentativa de iludir a realidade de uma forma desavergonhada e irresponsável)...
Mário Nogueira, secretário-geral da FENPROF, afirmou que o «pior que pode acontecer neste caso é desvalorizar-se a situação e dizer-se que só aconteceu porque era frágil.»
O senhor José Joaquim Leitão deveria ser imediatamente responsabilizado pela tentativa de branqueamento da situação e falta de vontade política em resolver os problemas. Se os maus tratos dos alunos tiveram um peso que 30, 50 ou 70 por cento no suicídio do professor o que altera de substancial? Deixa de haver indisicplina e violência? Isto não é uma questão de estatística.
São muitos os professores em estado de exaustão física e psicológica. A maioria não se realiza na profissão porque não tem condiçoes para ensinar nas salas de aula deste País e desta Região. Os alunos que querem aprender também não têm condições para o fazer: não vêem cumprido um direito basilar inscrito na legislação, o direito à aprendizagem.
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