A entrevista a Miguel Albuquerque de hoje ao Diário, numa altura em que o seu partido se movimenta em direcção ao congresso em Abril e às Legislativas Regionais no Outono, é sintetizada na manchete com palavras perigosíssimas: «Novo ciclo, novas pessoas, novas políticas.» Sobretudo o «novas pessoas» deve ter arrepiado quase todo o PSD.
Bem como essa ideia de o partido não ser uma «central de distribuição de mordomias para meninos e meninas»...
Só quando as «dificuldades ao nível da economia, do turismo, dos serviços, do ambiente e do nosso tecido empresarial» entram pela casa dentro, com um elevado número de desempregados, é que nos lembramos de novos ciclos, mudança, quebra de rotinas e renovação? Não deveria haver um maior esforço de antecipação e prevenção dos problemas?
«[O]lhar para o turismo como o vector estratégico e fundamental para o desenvolvimento da Região»? Antes de 1978 já era o sector fundamental da economia regional. Neste momento está no estado que sabemos.
Quem subestimou o peso do turismo e o geriu nos últimos 30 anos? Quem fala agora tanto em mar para captar mais turistas e nichos de turismo e se deu ao luxo de, por exemplo, destruir condições naturais na costa da ilha, ainda por cima com obras de duvidosa rentabilidade e com custos económicos, paisagísticos e ambientais?
Alguns surf breaks foram destruídos ou comprometidos quanto às suas condições excepcionais, em que o Jardim do Mar é um exemplo flagrante, ignorando-se o seu peso económico multiplicador, em determinadas localidades da Madeira. E agora é preciso «alargar a promoção», «melhorar os fluxos turísticos», quando se despreza a promoção de borla que o nicho do surf, por exemplo, fazia da ilha... da ilha autêntica, natural e exótica. A que atrai e interessa aos turistas.
Sem qualquer visão de futuro, cegos pelo eleitoralismo e pela construção desenfreada pela costa, o turismo ligado ao mar e de natureza como o surf foi apelidado de «pata-rapada»... Agora, em tempo de crise e vacas magras, bem que faria jeito ter esses «pata-rapada» a fazer turismo na Madeira... Pois, a Miguel Albuquerbe interessa é o «turismo das regatas», explicita na entrevista. O nicho do surf, que nem é preciso pagar para vir cá, bastaria não destruir as condições naturais, não interessa... É ignorado.
Agora, falta um plano estratégico para o turismo na Madeira, como tem colocado João Welsh, citado por Miguel Albuquerque na entrevista... Ver ainda opinião daquele empresário sobre a sua visão estratégica para o Destino Madeira. Se não for tarde demais. Se não tivermos ficado presos no século XX...
O governante afirma ainda que os «desafios [actuais] não são compatíveis com posturas acríticas relativamente ao que tem de ser mudado» e que «vivemos numa sociedade democrática, portanto não pode haver problema nenhum» quanto à crítica... Deveria já saber que crítica na nossa cultura é ser contra. Nem precisa de ser destrutiva...
Na Madeira nada muda. Ou muda tão lentamente que equivale a não mudar. Equivale a estar inerte.
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