«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

domingo, setembro 11, 2011

Madeirenses vão ter de assumir os prejuízos após os benefícios


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"As pessoas esquecem-se que os madeirenses reagem de forma diferente dos continentais, porque efectivamente beneficiaram com a dívida, e na sua maioria prefere Jardim", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, figura cimeira do PSD nacional (JM 6SET2011).

Só quando chegar a hora de assumirem os prejuízos (sacrifícios) a atitude dos madeirenses é passível de se alterar. Apesar de muita da obra ter sido necessária (sobretudo entre 1978 e 2000) para a Madeira atingir o patamar de desenvolvimento social equiparado ao resto do país, nesse momento de assumir os prejuízos, os madeirenses condenarão a opção política de fazer obra que subscreveram no passado, mesmo que à custa de endividamento. E passarão as culpas (morderão a mão) a quem lhes providenciou os benefícios durante mais de três décadas.

"Mas a culpa não é apenas de Jardim", escreveu o comentador Daniel Oliveira (Expresso 8SET2011). «É, obviamente, antes de mais, dos madeirenses. São eles que o elegem. É natural que o façam quando percebem que o circo jardinista rende à Madeira uma folga orçamental.»

Como ficou expresso noutro texto, Medo intrínseco e não apenas extrínseco, o poder democrático é eleito, não tem toda a culpa. Daí que os madeirenses não sejam apenas vítimas do poder.

Não gosto desta ideia desculpabilizante dos coitadinhos e indefesos, como se as pessoas fossem ingénuas, inaptas ou mesmo imbecis (rebanho) e não fossem capazes de ajuizar e escolher, em consciência e com lucidez... Como se nada pudessem fazer. Como se a mudança não estivesse nas suas mãos. Não gosto de olhar o chamado povo a partir de um pedestal, de um palanque, de uma tribuna ou de um púlpito.

Como disse ainda Ângelo Correia, do PSD, a "Madeira, parte de Portugal, vai assumir seguramente uma grande quota de responsabilidade e de solidariedade nossa" (Diário de Notícias da Madeira 1SET2011).

Não há outra alternativa. A República não pode dizer que nada tem a ver com a situação financeira da Madeira, um passivo entre muitos outros passivos públicos que existem no país, nem os madeirenses podem esperar que a República lhes resolva todos os problemas. Temos de assumir as responsabilidades pelas opções que fizemos, maioritariamente, isto é, enquanto sociedade.

Por isso, não me venham com discursos desresponsabilizantes, seja de uma parte (Governo Regional) ou de outra parte (população madeirense). Sobretudo quem defende a consciência crítica, a responsabilidade cívica ou a autodeterminação por parte dos cidadãos não pode cair na tentação de concentrar a culpa num único lado, num único homem. Se as pessoas são capazes para exercer direitos, são igualmente capazes para exercer opções, deveres e responsabilidades.

Os sacrifícios por cá vão doer, depois de 33 anos sem saber o que é crise: diversos impostos a subir, serviços públicos mais caros, portagens na via rápida (nossas auto-estradas SCUT), subsídios a desaparecer e desemprego a aumentar consideravalmente.

Não é para desanimar ou dramatizar. É para olhar a realidade de frente e enfrentar os problemas como melhor formos capazes.

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