«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

domingo, setembro 18, 2011

Não subestimar o eleitorado e a capacidade de sobrevivência política de Alberto João Jardim

Eleitorado madeirense está cristalizado: quem vai (continuar a) derrotar Alberto João Jardim e o PSD-Madeira, nos próximos anos, não em 9 de Outubro próximo, é a troika
photo copyright: Mike Sergeant

As notícias da grave omissão de 1,6 mil milhões de euros deixaram alguns eufóricos mas há quem não conheça (ou esqueça como é) o eleitorado madeirense. Uma coisa é a opinião pública e os comentadores outra coisa é o que pensa esse eleitorado, cuja maioria só quer saber de Alberto João Jardim e não quer saber de política e dessas questões de dívidas e défices... Política é uma palavra com conotação negativa. Não se vê o cidadão comum madeirense a falar destes assuntos no Facebook ou nos blogues...

É contraproducente deitar foguetes atrás dos buracos indentificados pela troika e subestimar as qualidades (no meio dos defeitos) do actual líder regional e a sua capacidade de sobrevivência política. E não se esqueça ainda da máquina infernal de campanha do PSD-Madeira, que está aí no terreno.

Eu até vou citar alguém da área socialista, outro "animal político", para quem não reconheça credibilidade às minhas palavras. Mário Soares, que não é propriamente um amigo do presidente do Governo Regional, disse à SIC Notícias (16.9.2011): «ele [Alberto João Jardim] tem qualidades e não meteu o dinheiro ao bolso» já que deixou obra na Madeira. Por isso, a «sanção política pode não vir». «Os madeirenses têm esta ideia: este homem trouxe-nos até aqui. Se calhar ainda vai ganhar outra. Se calhar eles têm razão

Não se pode, pois, subestimar a razão dos madeirenses mesmo que não coincida com outras razões, nem antecipar o julgamento que irá ser feito pelo eleitorado no próximo dia 9 de Outubro, dia das Eleições Legislativas Regionais. Em democracia a razão do eleitorado é aquela que mais ordena. Não vale a pena olhar o povo de cima para baixo. Quem tem um palco tende a ver o povo como um rebanho.

«Se eles não querem aliviar-nos da sua [de Alberto João Jardim] indesejável companhia, só há uma solução: vender a Madeira a quem der mais!», disse Vital Moreira, cujos ódios e guerrinhas pessoais com Alberto João Jardim toldam a análise. Vital Moreira faz aquilo que critica no inimigo de estimação. Este tipo de posição não pode ser levada a sério e ofende o povo madeirense (votem ou não em Alberto João Jardim).

Por mais que dê jeito a quem se opõe, ofender os madeirenses não é o caminho. E ainda há quem fique contente cá por se dizer mal da Madeira lá fora... Jardim e Madeira são coisas diferentes. Não podemos cair no "quanto pior, melhor". O combate ao jardinismo não pode, por tabela, denegrir a Madeira e os madeirenses, cada vez mais conotados com o gregos, na forma como gerem o dinheiro e se endividam...

Sou crítico face à falta de massa crítica na população e a governação de 33 anos tem responsabilidade por não ter concedido espaço para que a sociedade civil se emancipasse, mas não gosto que confundam a Madeira, a Autonomia e os madeirenses com os aspectos negativos do actual líder. Não gosto que mostrem apenas o lado caricatural e boçal da Madeira e o generalizemos. Este arquipélago tem muito para mostrar de positivo.

Sabe-se que a sociedade madeirense tem falta de massa crítica, mas não se tomem as pessoas por ingénuas ou inaptas. Se têm pactuado com o estado de coisas é porque também lhes tem interessado e servido. Falta de consciência crítica não é o mesmo que falta de consciência nas opções eleitorais. O eleitorado (o colectivo madeirense) terá depois de assumir os prejuízos e responsabilidades das suas opções. Não há fuga possível.

Não se deve esquecer que, em tempo de grave crise, as pessoas tendem a unir-se à volta da liderança que lhes tem garantido o pão e o bem-estar, crendo que, mais uma vez, essa liderança será capaz de ultrapassar as dificuldades e continuará a vencer. As pessoas têm um forte sentido de gratidão pelo muito que lhes foi providenciado. As consequências a doer apenas chegarão depois das eleições.

Além de tudo o mais, quem vai (continuar a) vencer Alberto João Jardim é a troika. Não é a oposição nem mais ninguém. Isto não é uma questão de opinião: é a realidade. Domesticamente, Alberto João Jardim é invencível. O PSD será vencível com o líder que se seguir, quando Alberto João Jardim já não der a cara pelo partido e pela governação.

Teve azar uma geração que viveu, dentro e fora do seu partido, este período histórico, já que Alberto João Jardim secou tudo à sua volta durante todas estas décadas e não deu oportunidade a mais ninguém de liderar os destinos da Região e haver alternância na governação.

Eleger Alberto João Jardim para um novo mandato, para governar em austeridade, sem dinheiro, será o maior castigo, pelo enorme endividamento na última década. Não é a lógica comum ou natural, mas faz o seu sentido. Porque independentemente do partido e do candidato que ganhe as eleições de 9 de Outubro, quem vai governar a Madeira é a troika.

1 comentário:

  1. Sempre disse que AJJ não ia ser derrotado nas urnas mas pela economia. A propaganda funciona mas a realidade no longo prazo é sempre mais forte...

    amsf

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