"A crise com pessoas dentro", uma reportagem do Diário
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Baseado em declarações do presidente da Cáritas no Funchal, José Manuel Barbeito, o Diário refere na edição deste Domingo que, «com a austeridade anunciada, as perspectivas são muito, muito reservadas e, em consciência, não se pode, nem se deve colocar de parte a possibilidade de uma situação de emergência social.»
Como já tínhamos referido no post Endividamento das famílias, o colapso social que é imperioso evitar, os sinais são deveras preocupantes, confirmados pelo responsável da Cáritas na Madeira e as reportagens que vão sendo publicadas nos jornais sobre a situação das famílias. É uma situação com ingredientes para uma emergência social. Quando não há pão o desespero pode tomar conta das pessoas.
"O desemprego, o divórcio e o endividamento são os principais problemas dos que nos contactam", explica José Manuel Barbeito ao Diário.
São anos de enorme dificuldade que estão à nossa frente, ainda por cima com uma dívida brutal em cima dos madeirenses - fez aqui o governo de Alberto João Jardim o que fez o governo de José Sócrates lá.
E o problema não é apenas a dívida pública portuguesa, calculada em 25% da dívida total do País. É a dívida privada (75%), a descapitalização da banca (insolvente ou sem dinheiro para injectar na economia - o que acontece a uma plantação sem água?) e a conjuntura de recessão europeia/internacional, decorrente da crise do subprime em 2006-2007.
Numa ilha pequena, no meio do Atlântico, em que são escassos os recursos e a economia é frágil, as oportunidades são escassas. A Madeira não tem condições para empregar duas a quatro dezenas de milhares de desempregados. A construção civil acabou. O mercado imobiliário congelou. O turismo está como está, mas continua a ser a nossa tábua de salvação. A Zona Franca e o offshore podem desaparecer. E os destinos da emigração não são os de antigamente.
Trabalhar para pagar dívidas ou, ainda pior, não ter emprego é suficientemente duro para lhe juntarmos desesperança, desespero e depressão. Aí o drama social agudiza-se. Conduz ao baixar dos braços, a actos irreflectidos e custa dinheiro recuperar a saúde mental e física. Na Grécia, a esperança de vida terá baixado pelo menos uma dezena de anos, devido ao impacto do stress nas pessoas.
As redes de solidariedade e apoio às pessoas, a começar nas famílias, terão de estar bem oleadas para amortecer as dificuldades. Tempo de os madeirenses se concentrarem no que os une, no que é essencial. Há valores que devem e têm de falar mais alto.
Haverá sempre alguns privilegiados, com tempo e dinheiro, que se entretêm em demandas no âmbito do pequeno interesse individual. Contudo, numa grave crise, a tendência é virar-se para a coesão do colectivo, recuperando-se laços sociais e familiares em detrimento do individualismo reinante nas últimas décadas. Menos consumo, melhores relacionamentos sociais, eis um aspecto positivo.
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