«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

domingo, outubro 23, 2011

Risco elevado de emergência social


"A crise com pessoas dentro", uma reportagem do Diário

Baseado em declarações do presidente da Cáritas no Funchal, José Manuel Barbeito, o Diário refere na edição deste Domingo que, «com a austeridade anunciada, as perspectivas são muito, muito reservadas e, em consciência, não se pode, nem se deve colocar de parte a possibilidade de uma situação de emergência social.»

Como já tínhamos referido no post Endividamento das famílias, o colapso social que é imperioso evitar, os sinais são deveras preocupantes, confirmados pelo responsável da Cáritas na Madeira e as reportagens que vão sendo publicadas nos jornais sobre a situação das famílias. É uma situação com ingredientes para uma emergência social. Quando não há pão o desespero pode tomar conta das pessoas.

"O desemprego, o divórcio e o endividamento são os principais problemas dos que nos contactam", explica José Manuel Barbeito ao Diário.

São anos de enorme dificuldade que estão à nossa frente, ainda por cima com uma dívida brutal em cima dos madeirenses - fez aqui o governo de Alberto João Jardim o que fez o governo de José Sócrates lá.

E o problema não é apenas a dívida pública portuguesa, calculada em 25% da dívida total do País. É a dívida privada (75%), a descapitalização da banca (insolvente ou sem dinheiro para injectar na economia - o que acontece a uma plantação sem água?) e a conjuntura de recessão europeia/internacional, decorrente da crise do subprime em 2006-2007.

Numa ilha pequena, no meio do Atlântico, em que são escassos os recursos e a economia é frágil, as oportunidades são escassas. A Madeira não tem condições para empregar duas a quatro dezenas de milhares de desempregados. A construção civil acabou. O mercado imobiliário congelou. O turismo está como está, mas continua a ser a nossa tábua de salvação. A Zona Franca e o offshore podem desaparecer. E os destinos da emigração não são os de antigamente.

Trabalhar para pagar dívidas ou, ainda pior, não ter emprego é suficientemente duro para lhe juntarmos desesperança, desespero e depressão. Aí o drama social agudiza-se. Conduz ao baixar dos braços, a actos irreflectidos e custa dinheiro recuperar a saúde mental e física. Na Grécia, a esperança de vida terá baixado pelo menos uma dezena de anos, devido ao impacto do stress nas pessoas.

As redes de solidariedade e apoio às pessoas, a começar nas famílias, terão de estar bem oleadas para amortecer as dificuldades. Tempo de os madeirenses se concentrarem no que os une, no que é essencial. Há valores que devem e têm de falar mais alto.

Haverá sempre alguns privilegiados, com tempo e dinheiro, que se entretêm em demandas no âmbito do pequeno interesse individual. Contudo, numa grave crise, a tendência é virar-se para a coesão do colectivo, recuperando-se laços sociais e familiares em detrimento do individualismo reinante nas últimas décadas. Menos consumo, melhores relacionamentos sociais, eis um aspecto positivo.

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