Afinal, há surf no Jardim do Mar, afinal está-se a tentar atirar mais areia para os olhos dos incautos. A RTP-Madeira deu ontem como notícia algo que toda a gente sabe, desde há muito. Pelo menos desde 2003. Nunca ninguém disse que as ondas e o surf desapareceram. Desapareceram e foram comprometidas as condições únicas do "point break" da Ponta Jardim, entre os melhores do mundo.
Vamos repetir toda a história, outra vez, para que se saiba toda a verdade e não apenas meia-verdade. Este é um aspecto tratado pelo filme Lost Jewel of the Atlantic. Ou bastava lembrar alguns artigos recentes do Diário de Notícias da Madeira sobre essa questão em específico.
Comece, por favor, por recordar estes textos (a memória é importante): Vídeo Regional ilustra e reforça argumentos da Save the Waves e Verdade das palavras abalizadas.
Pode-se ainda dizer o seguinte:
Já em Novembro de 2003 o presidente do Governo tinha dito «afinal, há surf no Jardim do Mar», num artigo de opinião. Alguns dias depois, no final do mesmo mês, o Jornal da Madeira fez algumas notícias nesse sentido. Agora foi a vez da RTP-Madeira, na véspera da estreia do filme Lost Jewel of the Atlantic na ilha.
Num dos artigos do Jornal da Madeira, em 2003, citam-se surfistas (a necessária verdade das palavras): «Fazer “surf” não é impossível, mas é mais complicado». Reconhece-se que «antes eram excelentes» ou que «antes as ondas rebentavam junto à costa, agora estas rebentam junto aos quebra-mares», o que «se torna muito perigoso». «Por outro lado, entendem que é mais difícil sair da água», porque a «colocação dos quebra-mares e a construção da muralha afectam em parte a prática deste desporto.»
Mais palavras para quê? Estas são a "verdade das palavras" de surfistas escritas pelo Jornal da Madeira de 29 de Novembro de 2003.
Há verdades em que não há volta a dar. A ondas estão no mesmo sítio, não poderiam fugir, mas as condições únicas passaram à história.
Ignora-se que o que esteve sempre em causa foi, note-se, o comprometer e destruir as condições únicas das grandes ondas do Jardim do Mar. Nunca acabar completamente com a existência das ondas. Bem ou mal iriam sempre existir ondas, como é óbvio.
E nunca ninguém disse que não se podia fazer surf. Surf único (de Reis, no Hawai europeu que era o Jardim do Mar) como antes, esse está comprometido, mas é possível fazer surf com muitas restrições: num espaço de tempo bem mais curto (maré baixa, porque a onda fica mais distante da protecção e dos cubos Antifer) e elevada perigosidade por causa desses cubos de cimento da protecção à estrada/promenade. E é muito mais raro agora fazer-se lá surf.
As condições únicas, que tornavam únicas estas ondas no Mundo e levaram o nome do Jardim do Mar e da Madeira a todo o lado, foram de facto comprometidas. Ninguém dá a volta a isto. Nem vídeos nem actos de propaganda.
Um conhecido surfista disse uma vez que a onda do Jardim do Mar era como se uma pessoa que se ama tivesse sido violada, mas que não era por ter sido violada que iria deixar de ser amada ou abandonada.
NOTA:
a) Reduzir as consequências da estrada/promenade/muralha do Jardim do Mar ao aspecto desportivo mais mediático (surf) desvia a atenção dos outros impactos e danos. Que teriam sido evitados (e todos os interesses em jogo conciliados) se tivesse havido o compromisso que foi tentado e pretendido por locais e surfistas - estrada mais estreita, sem entrar em confronto directo com o mar. Só isso. Não era para impedir a obra.
b) Pelo que me é dado a perceber, a Save the Waves e o Jardim do Mar querem os surfistas de volta, apesar dos danos e das limitações na antes famosa (e Real) onda da Ponta Jardim.
Vão ver o filme hoje, sábado e domingo. Estão lá os factos. Não há como ver para ajuizar pela sua cabeça.
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