«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sexta-feira, março 23, 2007

Professores de luto e em luta 45: tomada de posição demolidora de Júlia Caré II

A posição de crítica frontal ao Estatuto da Carreira Docente por parte da deputada madeirense à Assembleia da República, Júlia Caré, eleita nas listas do PS, foi recebida na Madeira, a avaliar por alguns comentários, como uma manobra alegadamente calculista e oportunista, para tentar salvar a face perante os docentes e aproveitar, pelo caminho, para ajudar o PS-M nas eleições regionais antecipadas.

1. Se a deputada e professora Júlia Caré não tomasse posição nenhuma seria criticada sem dó nem piedade. Como tomou posição, que não é uma posição qualquer pela dureza das críticas à política educativa do Governo PS, então é tudo a fingir, tudo oportunismo. Não faz lógica. É-se preso por ter e não ter cão.

2. É um facto que o decreto-lei que aprovou o novo ECD não passou pela Assembleia da República. Foi aprovado em Conselho de Ministros, certamente para evitar o embaraço político aos deputados professores e ao PS, que não quis arriscar indisciplina partidária num momento crucial.

3. Só agora, por via de uma apreciação parlamentar, o ECD foi alvo de discussão em São Bento. O momento não foi determinado pela bancada do PS porque a apreciação do ECD foi requerida pelo PCP. A última coisa que o PS quereria era o incómodo de confrontar-se, em plenário, com propostas de alteração àquela lei. Houve ordens quanto ao sentido de voto na comissão de Educação na AR, que chumbou as propostas da oposição. A deputada Júlia Caré evitou o voto abandonando a sala e apresentou uma declaração de voto que não deixa dúvidas. Formalmente, não quebrou a disciplina de voto, mas quebrou a disciplina imposta na matéria ao não votar e ao entregar ao assinar um texto contundente.

4. Se a tomada de posição fosse uma encenação não seria tão dura e clara e nunca seria autorizada por uma máquina partidária nem a brincar. Estão em causa princípios e não qualquer manobra obscura ou de salvaguarda de interesses. Caso contrário, a declaração de voto não soaria genuína e verosímil - não precisava ser escrita nos termos em que foi. Como por cá o oportunismo e o interesse pessoal são pragas endémicas, pensa-se sempre que as acções dos outros se regem pelos mesmos valores.

5. Por último, Júlia Caré e os restantes deputados socialistas madeirenses na AR receberam ontem o Sindicato Democrático dos Professores da Madeira (Diário 23.03.2007), ficando a hipótese de realizarem esforços no sentido de conseguir, nomeadamente junto do Ministério da Educação, um entendimento para a articulação entre o ECD nacional e o ECD regional proposto, para não se criarem problemas ou prejuízos à mobilidade docente entre Continente e ilha. Parece um forma autêntica e prática de intervir em benefício dos professores. No momento adequado. («Ao mesmo tempo, Júlia Caré lembra as "responsabilidades" do Governo Regional na garantia de harmonização dos dois estatutos», como diz a notícia.)

Nota: Haverá alguém cínico o suficiente para alegar que também este acto é a fingir e encenado? Porque se Júlia Caré, ex-presidente do Sindicato dos Professores da Madeira (SPM), recebeu em São Bento o concorrente Sindicato Democrático dos Professores da Madeira (SDPM) será, "com certeza", para compor uma estratégia oportunista qualquer (pessoal, eleitoral, etc.) e nunca para ajudar a resolver, genuinamente, um problema com que se debatem (debaterão) os professores...

5 comentários:

  1. Julgo que esses comentários não são representativos de como a posição da deputada foi recebida na Madeira.
    O que mais oiço e subscrevo é que inércia da deputada não é esquecida com um atrevimento de última hora, de que poucos se lembrarão passados 3-4 dias.
    Será que a deputada, por mais disciplina partidária que lhe seja imposta, não pode ter a iniciativa de colocar na agenda política a discussão de assuntos que em muito dizem respeito às classes que a promoveram aquele cargo, mesmo que o faça fora da esfera parlamentar? Deverá concordar comigo que a contestação de um deputado da mesma cor partidária do Governo terá mais impacto na opinião pública do que a contestação de um sindicalista, de quem a opinião pública só espera queixume...

    É verdade que neste episódio a deputada Júlia Caré seria ‘presa por ter ou não ter cão’, mas foi para aí que ela caminhou...

    «Como por cá o oportunismo e o interesse pessoal são pragas endémicas...» ...às quais nem o PS-M está imune, andam alguns socialistas madeirenses* a esfregar na cara da classe docente a história da heróica deputada que ousou contestar sozinha o prepotente Sócrates, quando qualquer pessoa informada sabe que não foi bem assim...

    *atenção, que eu não me refiro ao Nélio

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  2. Obrigado pelo comentário. Ele acaba por validar e confirmar aquilo que refiro no post.

    A deputada Júlia Caré declarou no Funchal, em Outubro de 2006, que não se pronunciava sobre o ECD até haver uma versão definitiva. Ela foi publicada em forma de lei há dois meses atrás. Já antes da publicação se sabia que um grupo de deputados na Assembleia da República requereria uma Apreciação Parlamentar do Estatuto da Carreira Docente - o jornal da FENPROF fez capa com o assunto em Novembro de 2007: "Professores nas escolas aguardam posição dos Deputados-Professores". «Aguardam posição», sublinho. Até os sindicalistas aguardaram, com paciência. Sabiam que o momento fulcral da clarificação chegaria. E a posição chegou.

    Se Júlia Caré sabia que, no decurso da apreciação parlamentar teria oportunidade soberana para tomar uma posição pública, aguardou-a. Ainda por cima no decurso de uma inciativa legislativa, no sítio certo. Era um momento e um lugar adequados à tomada de posição.

    É claro que se pode alegar que a deputada poderia ter tomado antes uma posição pública fora do contexto do parlamento nacional. Teria menor impacto. Além disso, a acção de um deputado não é toda do conhecimento público. Ninguém sabe que sinais Júlia Caré deu aos responsáveis do Ministério da Educação sobre o assunto, em reuniões que têm acontecido com os parlamentares do PS. As últimas com Valter Lemos não foram pacíficas, como deu conta a imprensa (também demos eco aqui neste blogue).

    A apreciação parlamentar acabou por ser requerida pelo PCP. Foi a plenário em 2 de Março. As propostas de alteração foram discutidas em sede de comissão parlamentar no dia 20 de Março. Foi aí que Júlia Caré tomou a posição dura e cristalina que é do domínio público. Esse acto (e a sua contundência) ninguém o consegue relativizar. A não ser para continuar a bater e a chamar nomes... deselegantemente. Não vamos confundir o essencial com o acessório. É colocada em causa a política educativa do Governo. Quantos de nós teriam a coragem de fazer o mesmo, aos olhos do país?

    Júlia Caré deu a cara e assinou por baixo do texto que escreveu.

    Já agora, seria bom que explicasse o «não foi bem assim» sobre a posição da deputada Júlia Caré, para ser claro para quem ler estes comentários.

    Se o interesse pessoal e o oportunismo são problemas endémicos, por que se haveria de ilibar desse flagelo social qualquer partido ou sector da sociedade madeirense? Não faria sentido. As pessoas também são produto do meio.

    O problema é que haveria muita gente que não contava com a posição (sobretudo os termos da posição) da deputada Júlia Caré, para continuar a alimentar certos sentimentos. A «inveja» e o «gosto pelo maldizer» são outros males endémicos, como bem sublinhou Alberto João Jardim, na cerimónica de tomada de posse do seu último governo, em Novembro de 2004.

    Nota: Total liberdade às conotações políticas. Conforme os assuntos e os textos neste blogue há quem os conote com isto ou aquilo, estes ou aqueles. Há quem confunda apartidarismo com não-cidadania. Como é óbvio, não serve de nada pronunciar-me sobre tudo isso. Tudo o que se diga será visto sempre como disfarce... É um tema sem fim, porque até dentro de cada partido político há uns que são colcoados mais à esquerda, outros mais ao centro e outros mais à direita. É a necessidade de situar e etiquetar, para maior segurança dos aparelhos. Saber com o que se conta... para não haver rebeldias e acções inesperadas. Como se sabe, os "independentes" são demsiado imprevisíveis, costuma-se dizer...

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  3. Os professores são uns privilegiadso e não querem abdicar das suas benesses como horários reduzidos, reformas mais cedo e vencimentos sem dar aulas para (não) trabalharem nos sindicatos. Que país suporta uma corja destas? Vejam os resultados do ensino, meditem, trabalhem e estejam calados. Sejam honestos. Deixem a Júlia Caré em paz.

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  4. «Estejam calados»...
    E assim vai a democracia... Não será por acaso que, neste momento, se procura reabilitar figuras do passado autoritário como Salazar... Há quem sonhe pôr tudo e todos na ordem... e «calados».

    Se, por um lado, exorta a deixar Júlia Caré em paz (é essa a posição deste blogue perante os eventos do dia 20 de Março),por outro lado, ao destilar ódio sobre os docentes, nega tudo o que a referida deputada escreveu em defesa/a favor dos professores e denunciou sobre o «corte radical com o sentir socialista» (a propósito do ECD), na declaração entregue na comissão de Educação no passado dia 20, na Assembleia da República.

    Aplaude Júlia Caré deputada e odeia Júlia Caré professora e ex-sindicalista, que defende os professores contra certos radicalismos economicistas do Ministério da Educação, como o fez na AR, no passado dia 20?

    É seguir o exemplo: Júlia Caré deu a cara, assumiu e assinou por baixo daquilo que escreveu.

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  5. Os professores do sindicato são uns chulos

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