Parece que alguém se precipitou ou excedeu (quis ser mais papista que o Papa).
«No mesmo dia em que Francisco Jardim Ramos [secretário regional dos Assuntos Sociais] reafirmou a inexistência de dinheiro para o aborto, o líder do Governo admitiu incluir as verbas no orçamento regional», refere o Diário de hoje. Ficou para trás a história do nem um «centavo para a interrupção voluntária da gravidez.»
Quando se dizia nem um centavo, não era referente a um período em particular, nomeadamente 2007. Como não foi feita essa ressalva, nem um centavo aplicava-se em geral e em abstracto. Por isso, é um recuo admitir que a partir do próximo ano já haverá verba para concretizar a IVG.
Mas, ainda bem que houve uma mudança de posição. Não é problema mudar de posição. Até resolve problemas, como no presente caso. O Governo é que procura transmitir à opinião pública que não houve qualquer mudança de posição ou recuo, como se quisesse mostrar que tem sempre razão e que não faz cedências.
Esta questão da recusa em realizar a IVG na Madeira não fez sentido nem tinha sustentação, desde a primeira hora. Ao ponto do presidente do Governo vir agora admitir a inclusão da verba no próximo orçamento da Região, para desbloquear uma situação de clara discriminação das mulheres madeirenses e introduzir bom senso na matéria.
Porque até as verbas em questão - 230 mil euros segundo o que foi calculado - não são significativas.
Se o Não à IVG ganhou na Madeira de forma esmagadora, então as despesas não poderão ser elevadas porque a lógica é haver pouco recurso à IVG. O orçamento regional não será muito penalizado. Isto se o voto depositado nas urnas corresponder aos actos. Mas, sabemos que uma coisa é a moralidade e outra coisa o comportamento na situação concreta, na hora do aperto.
Diz-se ainda no Diário de hoje que não se conhecem «casos de pessoas que estejam a recorrer ao hospital» para realizarem uma IVG. Ora, no meio de tanta polémica e hostilidade manifestada face ao tema, não se esperava que chovessem mulheres no hospital... Quem teve de fazer uma IVG evitou dar nas vistas e optou pela habitual via clandestina.
Obrigar as mulheres madeirenses a deslocarem-se ao continente para a IVG seria uma discriminação inadmissível. Mesmo que o Serviço Nacional de Saúde suportasse as despesas da IVG no Continente e até pagasse as respectivas viagens de transporte aéreo.
Nem um «centavo» para o aborto
É pouco autonómico...
Golpe de rins
Não prejudicar as mulheres madeirenses
IVG, a desculpa do dinheiro
Imagem: JM
Sem comentários:
Enviar um comentário