«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sexta-feira, outubro 03, 2008

Caso Magalhães 2

Chegou-me hoje ao email a newsletter da Rádio Popular, na imagem (note-se o título: o portátil português...), e um texto intitulado Magalhães, o mais escandaloso golpe de propaganda do ano.

A JP Sá Couto, que comercializa em Portugal o dito laptop, pode até ser uma óptima empresa, mas esta semana, quando tive de decidir entre o Tsunami Moover T10, que também comercializa, e o Asus 1000H, decidi-me pelo segundo, em parte por este episódio do Magalhães.

Aquela empresa, associada à propaganda do Governo da República, não me gerou confiança, embora possa estar redondamente errado. É mais emocional do que racional, mas simplesmente não me apeteceu lhes dar o dinheiro, que, de resto, lhe faz pouco falta.

Diz então esse texto, em circulação na Internet, sobre o episódio Magalhães:

«Os noticiários abriram há dias, com pompa e circunstância, anunciando o lançamento do 'Primeiro computador portátil português', o Magalhães.

A RTP refere que é 'um projecto português produzido em Portugal'. A SIC refere que 'um produto desenvolvido por empresas nacionais e pela Intel' e que a 'concepção é portuguesa e foi desenvolvida no âmbito do Plano Tecnológico.'

Na realidade, só com muito boa vontade é que o que foi dito e escrito é verdadeiro. O projecto não teve origem em Portugal, já existe desde 2006 e é da responsabilidade da Intel. Chama-se Classmate PC e é um laptop de baixo custo destinado ao terceiro mundo e já é vendido há muito tempo através da Amazon.

As notícias foram cuidadosamente feitas de forma a dar ideia que o Magalhães é algo de completamente novo e com origem em Portugal. Não é verdade. Felizmente, existem alguns blogues atentos.

Na imprensa escrita salvou-se, que se tenha dado conta, a notícia do Portugal Diário: «Tirando o nome, o logótipo e a capa exterior [
não gosto desta capa, desnecessária, pelo volume que acrescenta ao portátil e não sabemos se não tenderá a descolar...], tudo o resto é idêntico ao produto que a Intel tem estado a vender em várias partes do mundo desde 2006. Aliás, esta é já a segunda versão do produto

Pelos vistos, o jornalista Filipe Caetano foi o único a fazer um trabalhinho de investigação em vez de reproduzir o comunicado de imprensa do Governo.

A ideia é destruir os esforços de Negroponte para o OLPC. O criador do MIT Media Lab criou esta inovação, o portátil de 100 dólares.

A Intel foi um dos parceiros até ver o seu concorrente AND ser escolhido como fornecedor. Saiu do consórcio e criou o Classmate, que está a tentar impor aos países em desenvolvimento.

Sócrates acaba de aliar-se, SEM CONCURSO, à Intel, para destruir o projecto de Negroponte. A JP Sá Couto, que já fazia os Tsumanis, tem assim, SEM CONCURSO, todo o mercado nacional do primeiro ciclo.

Tudo se justifica em nome de um número de propaganda política.

Para os pivots (ex-jornalistas?) Rodrigues dos Santos ou José Alberto Carvalho, o importante é debitar chavões propagandísticos em vez de fazer perguntas.

Se não fosse a blogosfera - que o ministro Santos Silva ainda não controla - esta propaganda não seria desmascarada. Os jornalistas da imprensa tradicional têm vindo a revelar-se de uma ignorância, seguidismo e preguiça atroz.»

Recordar:
Caso Magalhães 1
Programa e-escola, o outro lado
Programa e-escola, que proveitos?
Ilusão de Sócrates

-As perguntas que devem ser feitas sobre o Magalhães [José Pacheco Pereira]
-Em defesa do Magalhães [Manuel Carvalho]
-A propósito do Magalhães [João Marcelino]

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