«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

domingo, outubro 12, 2008

Rabaçal em risco XI [Rabaçal at risk in Madeira Island] argumentos oficiais

Actualmente já vão 60 mil pessoas por ano ao Rabaçal, numa média a caminho das 200 pessoas por dia. Isto é um prejuízo? Ausência de rentabilidade? Diz-se que a natureza não deve ter apenas um valor contemplativo, mas o teleférico até o valor contemplativo da natureza põe em causa, sem acrescentar outros valores de forma inequívoca ou susbtantiva.
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«Manuel António diz que o teleférico vem valorizar a natureza», cita o Diário (11.10.2008) o secretário regional do Ambiente e Recursos Naturais. Não é discurso novo.

O teleférico do Rabaçal está para a serra como as praias artificiais estão para o litoral. Como temos muito dinheiro, entretemo-nos com estas artificialidades.

Refere o citado jornal que os impactos na natureza serão minimizados e que os «vários trilhos que levam milhares de turistas ao Rabaçal vão continuar assegurados, nomeadamente os percursos até ao Risco e outros».

Primeiro, reduzir os impactos não significa que eles não sejam significativos. Segundo, o que faltava era pôr em causa também esses trilhos... Isso nunca esteve em causa. Ou será que esteve?

O que se está a pôr em causa, com este projecto do teleférico, é a experiência que o Rabaçal actual proporciona às pessoas. Teleférico a sobrevoar o local, blocos de betão e cabos na paisagem, restaurante-bar e até 240 pessoas a serem decarregadas por cada hora alterará o Rabaçal, quer se goste ou não.

Diz-se que a natureza não deve ter um valor apenas contemplativo, mas o teleférico até o valor contemplativo da natureza põe em causa, sem acrescentar outros valores de forma inequívoca ou susbtantiva.

Invoca-se, em vão, a rentabilidade, o equilíbrio e a sustentabilidade para justificar o injustificável.

Será que o teleférico será tão rentável, reprodutivo, sustentável e repleto de equilíbrio como o monstro do Jardim do Mar? Por rentabilidade devem entender a abertura do bar-restaurante do teleférico como o bar que abriu no Portinho, no Jardim do Mar, após a grotesca promenade, que custou milhões e nem acesso deu às casas ou ao mar.

Já actualmente vão 60 mil pessoas por ano ao Rabaçal, numa média a caminho das 200 pessoas por dia. Isto é o quê? Um prejuízo? Um local deserto? Sem rentabilidade? É preciso um teleférico para quê? Obrigar os turistas a fazer uma descida mais cara ao Rabaçal? Então cobrem uma entrada ou uma taxa ambiental, para preservação do local, em vez de destruir a paisagem e colocar em risco o Rabaçal.

Intervenções irreprodutivas (ou sem reprodutividade relevante), que comprometem o exotismo e a autenticidade das belezas naturais da Madeira, factores de atracção turística, são sinal de equilíbrio e de sustentabilidade? Só se for no Terceiro Mundo, perdoe-me o Terceiro Mundo que não age assim.

Se o Governo está tão amigo do Rabaçal e está realmente interessado na «preservação da zona», como diz o Diário, não faz sentido ter interditado os carros de descer ao Rabaçal - a não ser que fosse para apenas fazer mais um negócio com a carrinha que lá opera: 60 mil visitantes anuais vezes 5 euros por viagem - para agora levar um teleférico a despejar até 240 pessoas por hora, que serão mais nocivos ao Rabaçal do que os carros que desciam o caminho alcatroado até, e só até, às casas do Rabaçal. Os carros não me metiam nos trilhos e levadas...

O facto da obra fazer parte do programa de governo, como invoca o secretário regional do Ambiente e Recursos Naturais, não é uma carta branca, porque quem votou nesse programa não quer dizer que tenha votado nesse projecto, em particular, do teleférico. É a democracia do "votou, calou" ou do "concordas com tudo ou não concordas com nada"?

Rota do teleférico (compare o mapa no topo com a imagem publicada pelo Diário aqui reproduzida: clicar sobre as mesmas):

«Saindo do pico Gordo, o teleférico passa pela chamada 'Estação B', por detrás das actuais casas florestais do Rabaçal, onde já existe uma plataforma preparada para acolher a nova estrutura. Finalmente, daqui parte para a 'Estação C', mais conhecida pelo Poio das Faias, que dista das 25 Fontes cerca de uma hora a pé.»

Memória:
Rabaçal at risk in Madeira Island X : avençados 2
Rabaçal at risk in Madeira Island IX : avençados 1
Rabaçal at risk in Madeira Island VIII : turistas falam
Rabaçal at risk in Madeira Island VII : cena coquette
Rabaçal at risk in Madeira Island VI : imagens
Rabaçal at risk in Madeira Island V : carta de leitor
Rabaçal at risk in Madeira Island IV : história
Rabaçal at risk in Madeira Island III : novo-riquismo
Rabaçal at risk in Madeira Island II : pergunta
Rabaçal at risk in Madeira Island I : teleférico

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