«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

domingo, dezembro 28, 2008

Jackpot pelas canas dentro 2

Oh povo que vives anestesiado, «talhas com teu machado as tábuas do [nosso] caixão.»
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Sob o título "Insulto de democracia" custa balúrdios Luís Calisto faz uma análise da semana que findou, que dá conta do estado a que chegámos:

«O regime parlamentar instalado na Madeira não passa de um 'escárnio de democracia' que já nem faz o menor esforço para esconder a imoralidade social das suas práticas. E hoje não falamos da bagunça, dos desaforos que estão lavrados no Diário da Assembleia.

O futuro incerto que a Região tem para atravessar cheira a crise galopante. Tudo a piorar. O desemprego a passar dos 9 mil. A emigração sazonal a crescer. Muito mais de 30 mil idosos a sobreviver com reformas de miséria, abaixo do salário mínimo.

Perante o 'tsunami' económico-financeiro de 2009, e quando a dívida regional (1.500 milhões de euros à banca) deveria fazer tremer o mais irresponsável esbanjador, que é que tramaram os deputados, com os da maioria na vanguarda? Pensaram em como atenuar os gravíssimos problemas sociais? Não. Tentaram aumentar-se a si próprios nos proventos financeiros. Inventar mais dinheiro para os partidos que lhes deram o lugar, e em quantias perfeitamente imorais. Isto depois de terem assegurado para si um nível interessante de vencimentos e reformas de luxo.

Além dos deputados, temos as despesas que o Governo faz como se fosse membro da OPEP. Subsídios e investimentos megalómanos para sectores que não dão retorno. Injecção em obras para mostrar serviço ao eleitor, com os inevitáveis gastos em 'trabalhos a mais'.

O espírito despreocupado alastra a autarcas que, como alguns membros do GR, não dispensam as suas mordomias - muitos deles com motorista privado, mesmo que seja para estar parado o dia inteiro. Fora os serviços particulares, como os jantares que obrigam a horas extras.

O Representante Monteiro Diniz acaba de mandar para o Tribunal Constitucional o decreto legislativo que visa reforçar os dinheiros já de si arrepiantes destinados a grupos parlamentares e a partidos - uma subida para uns incríveis 5,5 milhões de euros ao ano. Aliás, o orçamento da Assembleia da Madeira é de 17 milhões de euros e o dos Açores é de 10 milhões (e há mais deputados lá). Diniz não podia fazer outra coisa. O financiamento aos partidos é da competência da Assembleia da República e não dos parlamentos insulares. A Constituição proíbe partidos regionais.

A oposição criticou a iniciativa do PSD a propósito deste novo jackpot. Poderia ter feito melhor, ameaçando com 'estardalhaço' não ficar com o aumento. O PP fê-lo. E o PND passou mesmo à prática, adiantando-se com a entrega de 30 euros a idosos. Quem quer mostrar solidariedade não chama a comunicação social para a exibição farisaica. Mas o gesto vingou em dois aspectos: acicatou a opinião pública para o escândalo do jackpot; pôs em evidência o elevado número de necessitados na Região, a avaliar pela amostra da longa bicha de candidatos aos 30 euros. E não era o sem-abrigo vulgar que ali estava.

Enquanto antigos contribuintes recebiam o envelope, os políticos aguardavam novo jackpot. A maioria a procurar meios para se perpetuar nessa situação privilegiada. Mais dinheiro, mais propaganda, luxuosas campanhas eleitorais (algumas custam um milhão de contos), mais tempo de antena, mais impacto junto do eleitor. Maiorias cada vez mais amplas, minorias ameaçadas de extinção. Quanto mais sozinhas as maiorias, mais jackpots e mais vícios ao dispor.

Há quem preconize que dar apoios a miseráveis é mandá-los para a tasca. Já os quadros e os políticos, com os largos milhares de apoios que recebem, podem fugir à baiuca e remediar-se nos '5 estrelas' que o Brasil e a Riviera têm à disposição daqueles que nada têm a temer do 'tsunami' 2009.

O Bispo do Funchal apelou neste Natal aos madeirenses para que resistissem aos 'desejos mundanos'. Pode D. António ficar tranquilo: se a esmagadora maioria dos fiéis for para o Inferno não será por ter cometido algum dos três primeiros pecados capitais.»

Recorde-se:
... resta combater
State of the autonomia address
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E tudo isto se passa pela anestesia geral deste povo, que «talhas com o teu machado as tábuas do [nosso] caixão.»

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