A estratégia e a linguagem («campanha negra» ou «poderes ocultos») de José Sócrates não é nova. Na Madeira, a diabolização dos adversários por via das alegadas campanhas ocultas, seja pela maçonaria, pelo lobby gay, pelos comunistas ou outras forças maléficas, é uma constante.
«Do século XV ao fim da II Guerra Mundial, ela [tal linguagem referida na legenda da imagem] esteve sempre associada ao fanatismo, ao terror e ao arbítrio», começa por explanar Vasco Pulido Valente, que escreve hoje no Público a propósito da comunicação ao país do primeiro-ministro, decorrente do caso Freeport.
Tudo e todos aqueles ("diabos") que se colocam no caminho de quem manda, nomeadamente para prejudicar Madeira e os madeirenses... (quantas vezes se ouve isto?) ou criar sombra ao líder, são para abater, «numa espécie de duelo entre o Bem e o Mal», entre o poder vigente (benévolo) e os "poderes ocultos" (malévolos).
A intimidação surge nessa escolha entre o Bem (eu) e o Mal (os outros). Colocada a questão deste modo autoritário o mesmo é dizer que só há um caminho. Quem quer seguir a via do Diabo? Quem quer ser acusado de ser um instrumento desses alegados poderes maléficos?
«Não se diaboliza o adversário (e um dos nomes do Diabo era o Oculto) por acaso ou por lapso. O exercício pressupõe uma profunda convicção da virtude própria e da maldade alheia; e um ódio ao "Inimigo" (outro nome do Diabo) sem regras, sem limites.»
«Quem são ou o que são os "poderes ocultos"? São tudo e não são nada, é toda a gente e não é ninguém. Qualquer instituição, qualquer pessoa, qualquer categoria de pessoas fica forçosamente sob suspeita.»
«Devemos nós condenar a imprensa e a televisão? O capitalismo? O PSD? O PCP? A extrema-esquerda? Ou a polícia, a Procuradoria e a Inglaterra? Ou simplesmente devemos condenar (e perseguir?) quem prejudica ou ensombra o nosso chefe?»
«Sócrates prefere o melodrama e a intimidação: quem daqui em diante duvidar dele é um instrumento, "negro" e miserável, dos "poderes ocultos".»
Entre nós, em pleno século XXI, o comunismo ainda é usado como o papão para intimidar e diabolizar as vozes independentes e/ou dissonantes. Porque a mentalidade madeirense não se transformou. O discurso adapta-se ao interlocutores-eleitores.
Recorde-se:
"Red-baiting" (EUA década de 50 - Madeira últimos 30 anos)
Uns mais iguais do que os outros, mas iguais II
Uns mais iguais do que os outros, mas iguais I: domínio absoluto
Uns mais iguais do que os outros, mas iguais
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