«And some people say that it's just rock 'n' roll. Oh but it gets you right down to your soul» NICK CAVE

sábado, janeiro 31, 2009

Uns mais iguais do que os outros, mas iguais III: poderes ocultos

A estratégia e a linguagem («campanha negra» ou «poderes ocultos») de José Sócrates não é nova. Na Madeira, a diabolização dos adversários por via das alegadas campanhas ocultas, seja pela maçonaria, pelo lobby gay, pelos comunistas ou outras forças maléficas, é uma constante.

«Do século XV ao fim da II Guerra Mundial, ela [tal linguagem referida na legenda da imagem] esteve sempre associada ao fanatismo, ao terror e ao arbítrio», começa por explanar Vasco Pulido Valente, que escreve hoje no Público a propósito da comunicação ao país do primeiro-ministro, decorrente do caso Freeport.

Tudo e todos aqueles ("diabos") que se colocam no caminho de quem manda, nomeadamente para prejudicar Madeira e os madeirenses... (quantas vezes se ouve isto?) ou criar sombra ao líder, são para abater, «numa espécie de duelo entre o Bem e o Mal», entre o poder vigente (benévolo) e os "poderes ocultos" (malévolos).

A intimidação surge nessa escolha entre o Bem (eu) e o Mal (os outros). Colocada a questão deste modo autoritário o mesmo é dizer que só há um caminho. Quem quer seguir a via do Diabo? Quem quer ser acusado de ser um instrumento desses alegados poderes maléficos?

«Não se diaboliza o adversário (e um dos nomes do Diabo era o Oculto) por acaso ou por lapso. O exercício pressupõe uma profunda convicção da virtude própria e da maldade alheia; e um ódio ao "Inimigo" (outro nome do Diabo) sem regras, sem limites.»

«Quem são ou o que são os "poderes ocultos"? São tudo e não são nada, é toda a gente e não é ninguém. Qualquer instituição, qualquer pessoa, qualquer categoria de pessoas fica forçosamente sob suspeita

«Devemos nós condenar a imprensa e a televisão? O capitalismo? O PSD? O PCP? A extrema-esquerda? Ou a polícia, a Procuradoria e a Inglaterra? Ou simplesmente devemos condenar (e perseguir?) quem prejudica ou ensombra o nosso chefe?»

«Sócrates prefere o melodrama e a intimidação: quem daqui em diante duvidar dele é um instrumento, "negro" e miserável, dos "poderes ocultos"

Entre nós, em pleno século XXI, o comunismo ainda é usado como o papão para intimidar e diabolizar as vozes independentes e/ou dissonantes. Porque a mentalidade madeirense não se transformou. O discurso adapta-se ao interlocutores-eleitores.

Recorde-se:
"Red-baiting" (EUA década de 50 - Madeira últimos 30 anos)
Uns mais iguais do que os outros, mas iguais II
Uns mais iguais do que os outros, mas iguais I: domínio absoluto
Uns mais iguais do que os outros, mas iguais

Sem comentários:

Enviar um comentário